Diretor do Teatro Popular de Ilhéus destaca importância de políticas públicas contínuas para manter vivos ativos culturais como quadrilhas, boi-bumbá e terno de reis

Em entrevista ao programa O Tabuleiro, da rádio Ilhéus FM, nesta segunda-feira (16), o diretor e ator Romualdo Lisboa, do Teatro Popular de Ilhéus (TPI), destacou a urgência de fortalecer e manter vivas as expressões culturais tradicionais de Ilhéus, como as quadrilhas juninas, o boi-bumbá e o terno de reis. A fala ocorreu durante divulgação do Seminário Conexões Interculturais – intercâmbio de instituições culturais, promovido pelo TPI de hoje até quarta-feira (18), às 19h, na Academia de Letras de Ilhéus, com entrada gratuita.

“O que a gente viu semana passada é que Ilhéus tem quadrilhas juninas. Isso é extremamente importante. A cidade é movida pela cultura. Não só Jorge Amado, Jorge Amado sim, sempre. Mas também pelo boi, o terno de reis, as expressões que precisam ser mantidas em funcionamento”, afirmou Romualdo, ao defender uma estrutura estatal que permita preservar esses movimentos enraizados nas comunidades locais.

Além disso, Romualdo lembrou que Ilhéus não é feita apenas de paisagens naturais. “São quase 100 quilômetros de praia, mas também temos o Rio do Engenho, por exemplo, onde ocorreu uma revolta de escravizados em 1789. Eles pararam a produção por três anos e escreveram uma carta com reivindicações que até hoje inspiram o movimento sindical. Isso também é cultura. Isso é Ilhéus. E a gente precisa valorizar essa história, que é rica, complexa e muitas vezes invisibilizada.”

O diretor enfatizou que editais públicos são importantes, mas insuficientes: “Edital não é política pública. O gestor não pode cair na armadilha de pensar que só com edital está fazendo política pública. Porque política pública exige continuidade.” Para ele, a valorização da cultura requer programas estruturantes, como o Programa de Ações Continuadas da Secretaria de Cultura da Bahia, que há mais de 15 anos viabiliza a permanência do próprio TPI.

Romualdo destacou que Ilhéus é um dos poucos municípios baianos com estrutura consolidada de gestão cultural, com Fundo, Lei e Sistema Municipal de Cultura, além de um Conselho atuante. No entanto, ele ressalta que muitas cidades ainda não têm essas condições mínimas para acessar recursos estaduais e federais. Para ele, as instituições culturais privadas também têm papel fundamental na atualização das políticas públicas. “A gente está vivendo um boom do investimento em cultura, com as leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo. Mas se não houver estrutura nas cidades, esses recursos não chegam para quem faz cultura na ponta”, alertou.

O seminário, realizado em parceria com a UESC, o Fórum de Agentes e Gestores Culturais do Litoral Sul (FAEG-SUL) e a Academia de Letras de Ilhéus, propõe um debate aprofundado sobre as políticas culturais na Bahia e no Brasil. As mesas de discussão acontecem todos os dias às 19h, com transmissão ao vivo pelo canal do TPI no YouTube.

A mesa desta segunda-feira (16) discute “A política cultural e formativa das universidades públicas”, com professores da UESC. Na terça (17), o tema será “O papel das instituições culturais na formulação de políticas públicas na Bahia”, com representantes do TPI, da Gongombira e da Academia de Letras. Na quarta (18), o foco será “Desafios e avanços na articulação da cultura regional”, com representantes da UESC, da Secult Bahia e da Secretaria de Cultura de Ilhéus.

Para Romualdo, pensar cultura como direito universal, assim como a saúde pública, é um passo essencial: “A gente precisa compreender a cultura também a partir desse viés. Um SUS da cultura. Durante a pandemia, a gente viu que sem arte não dá pra viver. A realidade do jeito que ela é não basta pra gente viver”.

Ao final do seminário, todo o conteúdo será reunido em uma publicação digital gratuita voltada a gestores e instituições culturais de toda a região.

Confira a entrevista completa:

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