“NÃO É POSSÍVEL QUE AS MULHERES TENHAM QUE VIVER TUTELADAS PELA PRESENÇA DE UM HOMEM PARA SAIR DE CASA”, DIZ VEREADORA ENILDA
Afirmação foi feita pela vereadora Enilda Mendonça durante entrevista ao programa O Tabuleiro, da rádio Ilhéus FM
A vereadora Enilda Mendonça (PT), coordenadora da Frente Parlamentar de Defesa dos Direitos da Mulher, falou nesta segunda-feira (25) ao programa O Tabuleiro, da rádio Ilhéus FM, sobre a reunião realizada na semana passada com o secretário de Segurança Pública da Bahia, Marcelo Werner, em Salvador. O encontro aconteceu dias após a morte de Alexsandra Oliveira Suzart, Maria Helena do Nascimento Bastos e Mariana Bastos da Silva, encontradas em uma área de restinga na zona sul de Ilhéus, no dia 16 de agosto.
Logo no início da entrevista, Enilda explicou que a audiência com o secretário já estava prevista dentro da programação do Agosto Lilás, mês de enfrentamento à violência contra a mulher. “Não foi uma audiência para tratar exclusivamente desse fato. Esse fato, claro, entrou na pauta, virou a primeira pauta, é óbvio. Mas o secretário não recebeu a comissão por causa desse motivo, já estava agendado. Nós já estávamos com esse pedido de agendamento desde o início do mês, porque temos demandas como a Deam 24 horas e a Ronda Maria da Penha, que não tem viatura. E íamos levar essas demandas ao secretário. Com a tragédia, o ponto principal acabou virando esse”, afirmou a vereadora.
Durante a reunião em Salvador, além do secretário, participaram oficiais da Polícia Militar, da Polícia Civil e da Ronda Maria da Penha. Enilda destacou que a comissão pediu urgência nas investigações. “Cobramos celeridade porque precisa. A população merece o resultado dessa investigação. Nós estamos numa sensação de insegurança muito grande. A sensação de insegurança é muito maior do que a própria falta de segurança, porque é esse medo, esse pavor coletivo que vai sendo criado. As mulheres estão apavoradas na nossa cidade de não querer andar. Nós dissemos ao secretário que se tivesse sido três homens caminhando na praia, provavelmente eles estariam vivos. Então, mesmo quando não é um feminicídio, a gente morre pelo fato de ser mulher”, declarou.
Entre as reivindicações apresentadas ao secretário, estão a volta das rondas de quadriciclo nas praias, o aumento do videomonitoramento em pontos estratégicos da cidade e a implantação de bases móveis de policiamento. “Nós pedimos que voltasse a ronda de quadriciclo, assim como pedimos ao município que volte a ter a ronda da Guarda Civil, porque isso ajuda muito. Também pedimos bases móveis nas áreas de maior fluxo, porque intimida quem quer cometer o crime. E pedimos o aumento do videomonitoramento. Esses pedidos, de fato, ocorreram a partir da tragédia, mas nossas reivindicações sobre a Deam 24 horas e a viatura da Ronda Maria da Penha são anteriores a esse fato”, disse.
Enilda contou que o secretário se comprometeu a destinar uma viatura exclusiva para a Ronda Maria da Penha em Ilhéus. “Segundo ele, no mais tardar, até dezembro, Ilhéus vai ter essa viatura. Temos cerca de 200 medidas protetivas em vigor na cidade e a Ronda Maria da Penha acompanha mulheres em perigo. É uma demanda muito cara para nós, e já havia sido aprovada em requerimento na Câmara antes da tragédia”, afirmou.
Outra cobrança feita pela frente parlamentar foi a ampliação do horário de funcionamento da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam). “Nós não podemos aceitar que a delegacia de mulheres funcione só em horário comercial. A violência acontece à noite e nos finais de semana, e é quando as mulheres mais precisam desse ponto de apoio”, reforçou.
O apresentador Vila Nova destacou, durante a entrevista, que o crime já tem causado impactos econômicos para a cidade. “Sexta-feira eu tive uma conversa com algumas pessoas do trade turístico, e eles me mostraram números ruins para o turismo de Ilhéus, com cancelamentos de reservas no final de semana passado. Isso traz prejuízo para a cidade, para a imagem, para a geração de renda, além de abalar emocionalmente a sociedade”, disse.
Enilda concordou: “Exatamente, porque a manchete nem trata o crime primeiro, trata a cidade turística. E isso prejudica o turismo. Eu mesma, no aeroporto, ouvi uma pessoa dizendo a outra para ter cuidado porque estava indo para uma cidade muito violenta. Olha quanto isso faz mal à nossa imagem.”
A vereadora relatou que também solicitou a transformação do núcleo de homicídios em uma delegacia especializada, diante do aumento de casos registrados em Ilhéus. “Em menos de dez dias tivemos nove mortes. Mesmo que os números absolutos mostrem redução em relação ao ano passado, as mortes recentes foram muito mais trágicas. A morte dessas três mulheres abalou não só a cidade, mas teve repercussão nacional.”
Por fim, Enilda reforçou que a Frente Parlamentar pediu a reativação do Conselho Municipal de Segurança Pública, criado por lei em 2004, mas que está inativo. “Esse conselho tem que ser reativado para pensar a segurança pública de Ilhéus, envolvendo sociedade civil, Polícia Militar e Executivo Municipal. É algo simples, mas fundamental.”
Confira a entrevista completa:
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