“O ATENDIMENTO DO MATERNO TAMBÉM GIRA EM TORNO DE QUESTÕES DA ATENÇÃO PRIMÁRIA”, DIZ DR. BRUNO GUIMARÃES, DIRETOR DA FESF
Falta de acesso na atenção básica aumenta a demanda no Hospital Materno Infantil Dr. Joaquim Sampaio
Durante entrevista ao programa O Tabuleiro, da Rádio Ilhéus FM, nesta terça-feira (18), o comunicador Vila Nova recebeu o diretor-geral da Fundação Estatal Saúde da Família (FESF), Dr. Bruno Guimarães, e o superintendente da Atenção Integral da Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab), Dr. Karlos Figueredo, para discutir a crescente demanda no Hospital Materno Infantil Dr. Joaquim Sampaio, em Ilhéus, provocada, segundo os entrevistados, pela falta de acesso adequado à atenção primária nos municípios da região.
Abrindo a entrevista, Dr. Bruno destacou a relevância do hospital para Ilhéus e para toda a rede materno-infantil da Bahia: “O Hospital Materno Infantil Doutor Joaquim Sampaio [...] é uma unidade importante para a região. [...] Ao longo desses anos, desde a sua implantação, vem produzindo efeitos bastante importantes para o cuidado das mulheres gestantes aqui na região. [...] A gente tinha um vazio essencial histórico nessa linha de cuidado.”
Ele reforçou que o hospital atende majoritariamente os municípios das regiões de saúde de Ilhéus e Valença, dentro da lógica de regionalização do SUS.
Sobre o fato de o hospital receber pacientes de outros municípios e até de outros estados, Dr. Bruno explicou: “O SUS é um sistema único, integral, de porta aberta. [...] A unidade também pode atender outros pacientes de outras regiões.”
O comunicador e apresentador do programa, Vila Nova, questionou se essa busca crescente não estaria sobrecarregando o Materno Infantil: “O serviço é muito bom, isso se espalha, e a procura aumenta, a demanda aumenta. [...] A equipe não cansou?” Dr. Bruno respondeu que, desde a criação do hospital, a estrutura e o quadro de profissionais são planejados conforme a capacidade instalada: “A gente menciona a equipe necessária para o hospital conseguir dar resultados efetivos. [...] Se a gente aumenta o fluxo de usuários, a gente também precisa pensar no redimensionamento dessa equipe.”

Segundo ele, o governo tem investido na criação de novas unidades no Estado, o que reforça a rede e ajuda a evitar sobrecarga: “O Estado investiu na abertura de mais de 20 unidades hospitalares. [...] Isso desafoga e é um avanço fundamental.”
Um dos pontos mais contundentes da entrevista foi a avaliação de Bruno sobre o perfil dos atendimentos: “O atendimento do materno também gira em torno de questões que poderiam ser tratadas na atenção primária, na atenção básica. [...] Isso faz com que os dados da unidade estejam muito superiores ao que ela é capaz de produzir.”
Ele destacou que muitos pacientes classificados como azul e verde — baixa complexidade — chegam ao hospital buscando segurança: “A gente percebe um quantitativo elevado de usuários com esse perfil sendo atendido no hospital.”
Para o diretor, isso revela a necessidade de maior estruturação municipal: “Os gestores municipais precisam ampliar o investimento na atenção primária.”
Dr. Karlos Figueredo reforçou a preocupação com a porta de entrada das unidades estaduais na região sul: “Os números que encontramos na porta de entrada estão cada vez mais em ascensão daqueles pacientes que chamamos de azuis e verdes. [...] Me preocupou ainda mais.”
Segundo ele, mesmo municípios do entorno, como Una, acabam enviando pacientes por falta de resolutividade local: “A maior porcentagem de atendimento nesses hospitais são de munícipes mesmo aqui de Ilhéus. [...] Mas o que nos preocupa é que aumentou muito a procura de pacientes com perfil que não precisava se deslocar até o hospital.”
Karlos detalhou os números:“Eu estou falando de mais de 70% de pacientes verdes. 8% ou 9% de pacientes azul.
São pacientes de baixíssima complexidade.”
Ele alertou para os impactos: “Além de sobrecarregar, gera desgaste para o paciente, que fica muito tempo aguardando, e se perde a continuidade da linha de cuidado que deveria iniciar lá atrás.
Questionado se a população busca o hospital por falta de informação ou por ausência de atendimento básico, Dr. Karlos foi categórico: “Em sua grande maioria, os pacientes estão indo para o hospital pela dificuldade de acesso. [...] Não encontram outra porta. [...] Ou até foram atendidos, mas não foi resolutivo.”
Ele também reconheceu aspectos culturais: “Infelizmente, a gente tem uma cultura hospitalocêntrica. [...] As pessoas enxergam o hospital como a solução.”
Karlos ainda destacou a orientação do governo estadual: “Todos os pacientes que procuram qualquer unidade de saúde do Estado serão acolhidos, atendidos e devidamente orientados. Nós não recusamos atendimento a nenhum paciente.”
Ao longo de dois dias de visitas ao Materno Infantil, Dr. Bruno e Dr. Karlos avaliaram fluxos, resultados e dificuldades da unidade. Bruno ressaltou: “A gente tem feito discussões com as equipes para aperfeiçoar os processos. [...] Essa maternidade já é uma referência local e pode ser referência estadual e, quem sabe, nacional.”
Karlos complementou que é necessário fortalecer a relação entre Sesab e municípios: “Acredito que Ilhéus precisa estreitar ainda mais essa relação.”
Confira a entrevista completa:
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