“É PRECISO DAR VOZ AOS HERÓIS QUE O PODER FEZ QUESTÃO DE APAGAR”, DIZ PROFESSOR JOÃO CÉSAR SOBRE A I FEIRA LITERÁRIA DA SALA DE LEITURA GREGÓRIO LUÍS

Evento celebra a memória, a literatura e a ancestralidade afro-indígena grapiúna, com programação nos dias 16, 17 e 18 de outubro em Ilhéus
A I Feira Literária da Sala de Leitura Gregório Luís nasce como um movimento de resgate histórico e afirmação cultural em Ilhéus. Inspirada no legado de Gregório Luís e no Levante do Engenho de Santana uma das mais expressivas rebeliões negras do século XVIII no sul da Bahia, a feira propõe uma imersão na literatura, na memória e na ancestralidade afro-indígena grapiúna. O evento acontecerá entre os dias 16 e 18 de outubro de 2025, com atividades na Capela de Nossa Senhora de Santana, na Sala de Leitura Gregório Luís e no campo de futebol do Rio do Engenho.
Em entrevista ao programa O Tabuleiro, da rádio Ilhéus FM, nesta sexta-feira (10), o professor João César Santos de Andrade, um dos organizadores da feira, destacou que o propósito central da iniciativa é “resgatar a memória de Gregório Luís e dos protagonistas esquecidos da nossa história”.
Segundo o professor, o Rio do Engenho é um território de resistência desde o início da colonização. “O engenho foi construído no século XVI, e sua força de trabalho, nos primeiros tempos, vinha dos povos originários. Depois, no final do século XVIII, Gregório Luís e mais 15 negros e negras lideraram um levante que paralisou o engenho por dois anos. Eles elaboraram um tratado reivindicando direitos como descanso semanal e domínio sobre as ferramentas — algo semelhante ao que mais tarde se veria nos movimentos operários”, relatou.
João César lembra que o documento escrito pelos revoltosos surpreendeu os historiadores pela consciência política e pelo domínio da escrita. “Gregório e seus companheiros sabiam que a escravidão não acabaria naquele momento, mas buscavam reduzir o sofrimento. Eles pediam o direito de trabalhar com menos dor e mais dignidade”, afirmou.
A trajetória de Gregório Luís, segundo o professor, revela um apagamento histórico que a Feira Literária busca combater. “Ele foi preso, levado a Salvador e depois a Lisboa, de onde nunca mais voltou. Tudo indica que teve um fim semelhante ao de Tiradentes. Por isso, quando dizemos que é preciso dar voz a esses heróis, é porque o poder fez questão de apagar suas histórias”, enfatizou João César.
A programação da feira reflete esse compromisso com a memória e o protagonismo. Haverá saraus, rodas de conversa, contação de histórias, oficinas literárias, atividades infantis e o Barco Literário e da Comunidade, com exposição e venda de produtos locais. Nesta primeira edição, o evento homenageia o ator Mário Gusmão, pioneiro negro formado pela Escola de Teatro da UFBA e referência no teatro baiano.
A Feira foi contemplada no Edital de Apoio às Festas, Feiras e Festivais Literários (nº 01/2024), por meio do Programa Bahia Literária, com apoio do Governo do Estado da Bahia, através das Secretarias de Educação e de Cultura, via Fundação Pedro Calmon. Conta ainda com apoio cultural do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (IRDEB), por meio da Rádio Educadora FM e da TVE Bahia, além da parceria da Secretaria Municipal de Cultura de Ilhéus.
Para João César, a Feira é mais que um evento literário: é um ato político e educativo. “Essa cidade tem muita história que precisa vir à tona. Nós, que ainda estamos aqui, temos a responsabilidade de manter viva essa memória, de contar o que o poder tentou silenciar”, concluiu.
Confira a entrevista completa:
Deixe seu comentário para “É PRECISO DAR VOZ AOS HERÓIS QUE O PODER FEZ QUESTÃO DE APAGAR”, DIZ PROFESSOR JOÃO CÉSAR SOBRE A I FEIRA LITERÁRIA DA SALA DE LEITURA GREGÓRIO LUÍS