“QUEM DEVERIA ESTAR BRIGANDO PELO PRODUTOR DE CACAU ESTÁ DIZENDO QUE É O TARIFAÇO AMERICANO”, DIZ HENRIQUE ALMEIDA SOBRE DESÁGIO ANTERIOR À MEDIDA DE TRUMP
 
                    
                Em entrevista ao programa O Tabuleiro, agricultor apontou formação de cartel e omissão de entidades representativas diante do deságio pago pelas indústrias ao cacau
Na última sexta-feira, 8 de agosto, o site O Tabuleiro, da Rádio Ilhéus FM, publicou uma reportagem denunciando o deságio aplicado pela Barry Callebaut na compra do cacau. Produtores afirmaram que, apesar da cotação internacional estar em alta, o valor pago pela empresa na filial de Ilhéus está bem abaixo do esperado, levantando suspeitas de possível formação de cartel.
O assunto voltou ao ar nesta quarta-feira, 13 de agosto, no programa apresentado por Vila Nova, que ouviu o produtor Henrique Almeida. Ele disse que a situação tem lhe causado preocupação e fez críticas diretas às indústrias e às entidades representativas do setor.
Henrique lembrou que, no passado, foi possível impedir a entrada de cacau mais barato no país, o que valorizou o produto interno. “Quando eu era presidente da Associação dos Produtores de Cacau, conseguimos, junto ao Ministério da Agricultura, suspender a importação de cacau de Costa do Marfim por questões sanitárias. Foram oito anos em que a indústria teve dificuldade para importar e isso gerou ágio interno”, afirmou. Segundo ele, nesse período, “as indústrias chegaram a pagar 3 mil dólares por tonelada acima do preço da bolsa de Nova York”.
Para o produtor, o cenário atual é o oposto. Ele criticou a atuação de sindicatos, da Federação de Agricultura da Bahia e da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), que, segundo ele, “estão omissos” e não defendem o produtor. “Quem deveria estar brigando pelo produtor de cacau está indo para televisão e redes sociais dizer que é o tarifaço americano. Pelo amor de Deus, me façam uma garapa. O deságio é muito anterior a essa história do tarifaço dos Estados Unidos, do Donald Trump”, disparou.
Henrique acusou as três principais indústrias do setor — não apenas a Barry Callebaut — de se beneficiarem de isenção fiscal por meio do regime chamado drawback. Esse mecanismo permite importar cacau sem pagar impostos, desde que o produto ou seus derivados sejam reexportados. Segundo ele, no entanto, parte desse cacau estaria abastecendo o mercado interno, o que, na sua avaliação, configuraria sonegação fiscal. “Eles usam o drawback e, ao mesmo tempo, praticam o mesmo deságio, derrubando o preço pago ao produtor, que acaba sustentando esse benefício fiscal”, afirmou.
O produtor também defendeu que o caso seja levado para análise de órgãos competentes. “Quando as três únicas indústrias começam a pagar abaixo do preço da bolsa, me desculpe, isso é formação de cartel. Já conversei com advogados e pessoas que operam em bolsa e não tenho dúvida disso. Cabe representação no CADE”, disse.
Henrique encerrou alertando que, mesmo com preços internacionais elevados pela escassez de cacau no mundo, o Brasil corre o risco de não aproveitar o momento. Ele destacou que, diferente de culturas como milho ou soja, o cacau leva anos para atingir produção plena. “Essa recuperação leva de quatro a cinco anos. Ao invés de trabalhar para fortalecer o produtor, estão indo para a televisão preocupados com o tarifaço americano”, concluiu.
 
    



 
                 
                 
     
     
    
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