A MEMÓRIA QUE RESISTE: UM ALERTA DE JOSÉ NAZAL SOBRE O PATRIMÔNIO DE ILHÉUS
Historiador reflete sobre legado pessoal e lamenta o abandono de espaços culturais e históricos da cidade
O historiador José Nazal revisitou suas lembranças e arquivos fotográficos para fazer um balanço da própria trajetória e, ao mesmo tempo, lançar um olhar crítico sobre o descaso com a preservação da memória de Ilhéus. Em um texto profundo e sensível, ele compartilhou descobertas, recordações e uma inquietação crescente diante da perda contínua do patrimônio histórico e cultural da cidade. Leia abaixo o relato completo do historiador.
"Os circuitos de consagração social serão tanto mais eficazes quanto maior a distância do objeto consagrado" - Pierre Bourdier. Resumindo, segundo Clóvis de Barros Filho, o autoelogio é o que menos tem valor.
Concordo plenamente com os doutos senhores, porém, chegando perto de completar 70 anos de vida, começamos a olhar para trás e fazemos um balanço de nossas realizações. Essa autoanálise me fez perceber que, mesmo sem intenção ou planejamento, deixarei um pequeno legado para as gerações futuras, de registros que fiz e outros que guardei de grandes fotógrafos que nos precederam, cujo trabalho nos permite olhar o tempo de outrora.
Visitando meus arquivos de negativos, tenho encontrado registros que nem mais me lembrava de ter feito. Interessante o fato de que, ao ver as fotos, a memória volta numa rapidez impressionante. Dentre minhas buscas, eu esperava ansiosamente encontrar os registros da inauguração da Casa Jorge Amado, de 27 de junho de 1997. "Eureka!" Ontem eu encontrei. Ao digitalizar os negativos, veio a mim o pensamento de que nem a casa dedicada ao escritor aqui em Ilhéus tem um painel com fotos desse momento ímpar.
Expresso aqui o meu sentimento de pena, de dó, pelo fato de que pouco valorizamos nossa cultura, apesar de respeitar e registrar que existem exceções, graças a Deus. Aos poucos, vamos vendo se perder nosso patrimônio material e imaterial. Os prédio históricos, que outrora construíram e nos deixaram como um precioso bem, deveriam ser cuidados anualmente, a exemplo das quatro igrejas coloniais; do Palácio Paranaguá, da União Protetora dos Artistas e Operários, do Prédio Escolar, do Teatro Municipal, do Colégio Barão de Macaúbas, do Solar Pimenta, da Associação Comercial de Ilhéus, da Casa Jorge Amado, dentre outros. O que vemos é o contrário, ou extinção por demolição ou abandono para ruírem naturalmente, sem culpa para ninguém.
É o que penso e, como sempre digo, "o que penso só vale para mim".
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