ALTA DO PREÇOS DE ALIMENTOS NÃO DEIXARÁ O BAIANO SENTIR AUMENTO DO SALÁRIO MÍNIMO
Há cinco anos não houve aumento salarial no Estado que compensasse a alta dos preços - as consequências são o aumento do empobrecimento e inadimplência.
O governo enviou na última terça (31) ao Congresso Nacional a proposta de R$ 1.169 para o salário mínimo em 2022. O valor é R$ 69 maior que o salário mínimo atual, no entanto, o reajuste está abaixo da inflação, o que significa que não haverá um aumento real. E se já está difícil a vida do baiano, que mora no segundo estado com pior taxa de desemprego do país (segundo dados do último trimestre), se aprovado, ter como base o salário mínimo não vai ser lá muito fácil.
O economista e vice-presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA), Gustavo Casseb Pessoti, explicou ao Metro1 que provavelmente o valor será maior do que o indicado, ainda mais considerando que no próximo ano haverá eleições presidenciais. “Mas sobre o significado do reajuste para o baiano, nem que fosse de 10%, ou 15%, ele supriria o déficit orçamentário que o estado vive. Nos últimos anos a Bahia está está vivendo o pior desempenho da história. E isso em decorrência do desemprego, do PIB, que não cresce, chegou a pandemia e a situação se agravou, mas o problema é de antes”, disse Gustavo.
Segundo o economista, a maior parte dos baianos, cerca de 80% da população, tem renda média de até 2 salários mínimos. Como o reajuste é muito abaixo do necessário – há cinco anos não houve aumento salarial que compensasse a alta dos preços - as consequências são o aumento do empobrecimento, da inadimplência. “Eu aposto que as escolas particulares serão grandes afetadas, é comum haver uma grande evasão de alunos para as escolas públicas e, se não encontrarem no modelo híbrido um respiro, as particulares vão fechar. Já podemos observar também muitas pessoas deixando de ter um plano de saúde”, apontou Pessoti.
Gustavo, que também é diretor de Indicadores e Estatísticas na Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), explicou ainda que no momento, o problema nem é exatamente a inflação e sua projeção, mas sim, o valor das mercadorias agora. “Em 2020 a gente pode até não perceber tanto, mas mas agora está muito explicito, houve uma perda do poder de compra em todas as classes. Basta ir ao mercado e observar o preço da carne. Para os produtos em que a alta não está tão clara, podemos analisar que eles estão disponíveis em menor quantidade”, disse Pessoti.
Salvador
O Metro1 comparou dados para calcular alguns dos impactos do valor do salário mínimo no cotidiano do soteropolitano. A cesta básica de capital baiana, por exemplo, é a mais barata do Brasil, entre 17 capitais pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O valor ficou em R$ 461,18, o que representa 45,33% da porcentagem do salário mínimo líquido atual, que é R$ 1.100. O dado foi divulgado em abril. No novo valor teto, a porcentagem é 41,93%, isso sem considerar que houve um aumento no preço dos produtos. Ou seja, não haverá efetiva mudança, e quase metade do salário mínimo é destinado à alimentação.
Já em relação ao transporte, em abril, o soteropolitano sofreu o impacto de dois reajustes, na passagem de ônibus e na do metrô. “O trabalhador que pega quatro ônibus por dia gasta R$ 352. Ou seja, 1/3 de um salário mínimo”, disse o economista George Wander ao Metro1, quando ocorreu a mudança.
Geralmente, o aumento da passagem só acontece uma vez por ano, assim, na conta da inflação ela só entra uma vez, ”porém em questões práticas, a alta é sentida o ano todo”, explicou Pessoti. “Não fecha a conta”, disse. “O valor não é suficiente. Eu diria que o salário mínimo ideal para o baiano agora seria de R$ 3 mil reais, reajuste bem maior que a inflação, mas valor necessário para cumprir a proposta que é o salário mínimo, cobrir as necessidades básicas”.
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