Em noite de unanimidade, confraria mais antiga do Brasil em atividade altera estatuto e amplia mandatos para dois anos, fortalecendo sua missão de socializar e disseminar conhecimento sobre a "bebida dos deuses".

Em uma noite marcada pela tradição e pela celebração, o empresário Átila Eiras foi reeleito, na última quarta-feira, presidente do Clube do Vinho Jorge Amado. O pleito, no entanto, foi além da simples escolha de sua liderança. A confraria, que completará 15 anos de atividades ininterruptas em 2026, aprovou por unanimidade uma mudança histórica em seu estatuto: a ampliação do mandato do presidente de um para dois anos. A proposta partiu do confrade decano, o jornalista Vila Nova, e entra em vigor imediatamente, conferindo nova solidez institucional ao grupo.

Fundado no restaurante Lê Baron, a partir de uma inspiração do chef Benicio Aguiar, o Clube do Vinho Jorge Amado é reconhecido não apenas pela sua paixão enológica, mas também por seu título de clube mais antigo do Brasil em atividade. Formada por 18 confrades, a irmandade se reúne religiosamente a cada 21 dias para degustar, analisar minuciosamente e debater sobre os segredos e prazeres do vinho.

Mais do que um hobby, as reuniões são um testemunho do poder do vinho como agente socializador por excelência. "O vinho é a desculpa perfeita para o encontro, para a conversa, para o debate de ideias e para a construção de amizades”, disse o Professor, cirurgião Dentista Dr Fábio Silveira. “Ele quebra barreiras e une pessoas das mais diversas áreas em torno de uma taça", acrescentou o advogado Dr Plinio Torres. Após a reeleição, Átila agradeceu a confiança dos confrades pela sua recondução e abriu os trabalhos que, na reunião desta quarta-feira, foram apresentados pelo confrade Cléber Aguiar.

A resiliência do grupo ficou evidente durante o período mais crítico da pandemia de COVID-19. Diferente de muitas associações, a Confraria não interrompeu suas atividades. Adaptando-se às circunstâncias, as reuniões migraram para o ambiente virtual, permitindo que cada confrade, em sua própria residência, continuasse a compartilhar experiências e a manter viva a chama do grupo. "Foi um momento que mostrou que o que nos une vai além da presença física. O vinho foi nosso elo de confraternização mesmo à distância", complementa Corrado Meotti.

O Vinho no Mundo: Cultura versus Saúde

A celebração do Clube Jorge Amado ecoa um debate de alcance global. Enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) defende, a partir de 2025, que "não há nível seguro de consumo de álcool" e propõe medidas mais rígidas para todas as bebidas alcoólicas, setores ligados ao vinho articulam-se para destacar seu valor cultural e histórico distinto .

Recentemente, a International Wine Academy enviou uma carta aberta à 80ª Assembleia Geral da ONU, fazendo um apelo para que o vinho "não seja reduzido apenas à questão do consumo de álcool" . O documento alerta que desnormalizar a bebida seria ignorar oito mil anos de história e patrimônio cultural, defendendo o consumo moderado como uma prática de convivência, equilíbrio e respeito à tradição .

Essa "guerra do álcool" coloca, de um lado, o "lobby antiálcool", preocupado com externalidades como custos hospitalares e doenças crônicas, e, de outro, o "lobby do vinho", que busca um tratamento diferenciado, baseado na ideia de que o vinho é cultura, agricultura, turismo e sociabilidade . O setor vinícola argumenta que políticas restritivas concebidas para outras bebidas podem prejudicar vinícolas familiares, produtores locais e economias regionais que dependem do enoturismo .

O Vinho no Clube: Saúde, Cultura e Patrimônio

Nesse contexto global, o Clube do Vinho Jorge Amado personifica localmente os princípios defendidos pelos entusiastas da cultura vinícola:

· Cultura e Educação: O vinho é tratado pelos confrades como uma expressão cultural, um produto que carrega em seu aroma e sabor a história de um terroir, o trabalho de um viticultor e as tradições de uma região. Cada garrafa aberta é uma aula de geografia, história e gastronomia.
· Patrimônio e Tradição: A própria existência do Clube Jorge Amado, como o mais antigo em atividade, o torna um patrimônio da cultura vinícola nacional. Sua perseverança é um símbolo do crescente apreço do brasileiro pela bebida e pela sofisticação de seus rituais.
· Saúde e Bem-Estar: A confraria, em suas degustações, também discute e valoriza a relação entre prazer e qualidade de vida. O consumo moderado e responsável é um pilar do grupo, que enxerga na taça compartilhada um momento de prazer e de convívio saudável.

Com a nova diretoria consolidada e um estatuto renovado, o Clube do Vinho Jorge Amado segue seu curso, provando que uma taça de vinho é, na verdade, um convite à vida, à amizade e ao conhecimento. E, como diria o patrono que lhe dá nome, é também um "dos mais certos caminhos para a celebração da alegria".