O empresário e cacauicultor Henrique Almeida falou sobre o crescimento no preço da fruta e os impactos da produção baixa

O preço do cacau segue batendo recordes na bolsa de Nova York. Nesta terça-feira (26/3), a tonelada chegou a US$ 10 mil.

Apesar disso, o mercado ainda sofre com colheitas fracas em importantes países produtores da África Ocidental, e a insegurança e a dúvida só aumentam sobre a capacidade de obter quantidade suficiente de grãos. Durante o programa O Tabuleiro, da Ilhéus FM, o cacauicultor e dono da Fazenda e do chocolate Sagarana, Henrique Almeida falou sobre o cenário atual do cacau no mundo. "Confesso que a gente já esperava por essa alta. Não tão rápido, mas o cenário caminhava pra isso, há uns 60 dias, quando o cacau começou a sofrer fortes altas no mercado internacional. O maior problema foi na África e não no Brasil. No cenário internacional, o Brasil pesa muito pouco, porque somos importadores de cacau, infelizmente, por falta de uma política clara em relação a produção na Bahia, porque o Pará continua crescendo. A Bahia teve um grande declínio e depois estagnou, com uma variação sempre de 20 mil toneladas pra cima, 20 mil toneladas pra baixo, mas, nada significativo", explicou.

Henrique falou também que a produção do cacau foi afetada pelo fenômeno El Niño e que isso vai afetar o valor do chocolate. "A nossa produção está extremamente atrasada por conta do El Niño, que impactou diretamente na safra temporâ. O famoso "cacau do bacalhau", que agora em março era muito comum a gente ter, teve muito pouco. O grosso da nossa produção vai ser em maio e junho. A gente não vai ter produção com volumes grandes antes disso. O impacto disso é que o produto chocolate vai encarecer. Uma das gigantes do mercado já soltou uma nota semana passada , quando a tonelada não tinha chegado a 9 mil", destacou.

O empresário destacou que o crescimento no preço do cacau não causa surpresa aos produtores que cultivam a fruta há mais de 50 anos. "Em 1976, quando o cacau chegou a quase US$ 5 mil a tonelada, o carro popular custava 100 arrobas de cacau. Era um Fusca. Hoje, o mercado está pagando em torno de R$ 700 a arroba. Cem arrobas de cacau são 70 mil reais. Ou seja, o preço de um carro popular. Não tem nenhuma surpresa. São 35 anos de preços extremamente defasados para o produtor. Nós pagamos essa conta por mais de 35 anos, desde a introdução da vassoura aos preços que também foram muito baixos. É a vez do produtor*, finalizou Henrique.