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MORRE AOS 108 ANOS MÃE CARMOSINA! FALECIMENTO COMOVE COMUNIDADE DE ILHÉUS

MORRE AOS 108 ANOS MÃE CARMOSINA! FALECIMENTO COMOVE COMUNIDADE DE ILHÉUS
Por: Redação O Tabuleiro
Dia 29/11/2025 08h28

Liderança da umbanda deixa legado de fé, acolhimento e tradição religiosa no município Foto José Nazal

Faleceu na madrugada desta sábado, dia 29, de causas naturais, Carmosina Mota de Souza Santos, aos 108 anos. Figura de grande relevância para as tradições religiosas de Ilhéus, Mãe Carmosina morava no bairro do Malhado e era referência na umbanda local e símbolo de devoção espiritual na cidade.

Aos 108 anos, completados em 2025, ela construiu uma trajetória marcada pela fé, pelo acolhimento e pelo respeito. Sua atuação firme, sua presença carismática e a dedicação às práticas religiosas fizeram dela uma liderança espiritual respeitada e querida por moradores, seguidores e pela comunidade umbandista de Ilhéus.

Muito além de sua longevidade, Mãe Carmosima tornou-se um ícone pela forma como conduziu sua missão religiosa, orientando fiéis, oferecendo apoio espiritual e mantendo viva a tradição da umbanda no município.

Ao longo da vida, Mãe Carmosina acumulou reconhecimentos que refletiam sua importância para Ilhéus. Recebeu o título de Cidadã Ilheense, foi homenageada pela Federação Nacional de Umbanda e, mais recentemente, teve seu trabalho lembrado durante uma visita à Delegacia da Mulher. Cada homenagem reforçava a grandeza de uma trajetória construída na fé e no respeito às tradições espirituais.

Sua história começa longe de Ilhéus, no povoado de Caldeirão, em Itaquara, onde nasceu filha de indígenas. A infância foi marcada por viagens difíceis e pela força da mãe, Dona Alvina. Uma das lembranças mais vívidas era a longa caminhada de 22 dias entre Jequié e Água Preta — trecho que sua mãe insistiu em fazer a pé, evitando qualquer meio de transporte. Durante o percurso, Carmosina teve contato pela primeira vez com homens mexendo o que ela chamou de “pedras pretas” sobre o barro, sem imaginar que presenciava a pavimentação das estradas.

A juventude foi dedicada ao trabalho. Em Água Preta, ela aprendeu a lidar com a lavoura de cacau, algo completamente novo para quem só conhecia plantações de café. Casou-se cedo e mudou-se para Ilhéus na década de 1950, onde ajudou a erguer, literalmente, o lugar onde criaria seus filhos. No Alto do Amparo, foi a primeira moradora e construiu ali uma casa simples, de palha e zinco, em um terreno que recebeu do então prefeito Pedro Catalão.

O trabalho duro sempre acompanhou Mãe Carmosina. Foi lavadeira de ganho para famílias tradicionais da cidade e lembrava com orgulho do cuidado com que gomava camisas usando parafina e passava ternos com ferro a brasa. Depois tornou-se feirante, vendendo mingau, café e até cachaça aromatizada para passageiros que desembarcavam do trem na antiga feira do Unhão e no tamarindeiro do Malhado.

Mãe Carmosina acumulava memórias vivas da cidade, da cadeia que antes ficava onde hoje é caminho para o Pontal, às antigas empresas de transporte, passando pelas rotinas que diferenciavam, segundo ela, “moças, casadas e mulheres da noite”, algo que dizia ter mudado completamente com o tempo.

A relação com a espiritualidade sempre esteve no centro de sua existência. As dificuldades de saúde e episódios de sofrimento a levaram a assumir a força espiritual que carregava desde menina. Foi muda, paralítica, asmática e passou por experiências que considerava espirituais até aceitar a missão na umbanda. A partir disso, dedicou anos a trabalhos de caridade, atendendo gratuitamente e, depois de orientação espiritual, cobrando apenas pequenas quantias.

Sua dedicação à religião também moldou sua vida pessoal. Para preservar o dom espiritual, abriu mão da vida conjugal, permitindo que o marido construísse outra relação, cujos filhos ela também criou com afeto. A família cresceu de forma imensa: dezenas de netos, bisnetos e tataranetos, além de filhos de santo espalhados por diversas cidades e até fora do país.

Mesmo sendo uma das principais referências da umbanda em Ilhéus, ela mantinha forte vínculo com o catolicismo. Frequentava a igreja do bairro, participava de missas e recebia visitas de padres e do bispo da diocese. O terreiro Sultão das Matas, que mantém ao lado da própria casa, sempre foi um espaço de acolhimento. Já o terreiro de candomblé da família, conduzido por sua filha Conceição, reforça a continuidade espiritual entre gerações.

Respeitada também por líderes de outros terreiros, Mãe Carmosina repetia que cada casa tem seu jeito, mas todas se unem pela fé. Mantinha boas relações com sacerdotes, autoridades políticas e religiosos, e nunca deixava de defender causas da comunidade, como o fechamento de canais e melhorias no bairro. Para ela, porém, nada era maior do que a caridade: “Se bate à minha porta, dou o que tiver, comida ou conforto espiritual”.

Seu legado permanece na memória afetiva e espiritual dos que conviveram com sua história e sua dedicação.

Ela deixa filhos, netos e bisnetos, além de um legado que seguirá presente entre aqueles que compartilharam sua caminhada e foram tocados por sua fé e generosidade.

O corpo está sendo velado na Rua Severino Vieira, 475, no bairro Malhado. O enterro está previsto para acontecer no domingo (30), às 9h, no Cemitério Batista, no bairro Pontal. 

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