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PORTO SUL EM RISCO: A MUDANÇA DE BITOLA DA FCA E SEUS IMPACTOS NA FIOL E NA BAHIA

PORTO SUL EM RISCO: A MUDANÇA DE BITOLA DA FCA E SEUS IMPACTOS NA FIOL E NA BAHIA
Por: Redação O Tabuleiro
Dia 25/03/2025 09h16

Por Isaac Albagli, ex-secretário de Planejamento e Infraestrutura do município de Ilhéus

A recente defesa da mudança de bitola da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) pelo Dr. Edgard Porto, da SEI – Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia –, levanta uma questão preocupante para a Bahia e para o Brasil. A proposta, que permitiria o desvio de cargas a partir de Tanhaçu para os portos da Bahia de Todos os Santos, representa um risco iminente para o futuro do Porto Sul, em Ilhéus.

Se implementada, essa alteração comprometerá a vocação logística da FIOL e colocará em xeque um dos maiores projetos de infraestrutura do estado, afetando diretamente a economia da região e a competitividade do Porto Sul.

A FIOL foi concebida como uma ferrovia de bitola larga (1,60 m) para permitir um escoamento eficiente de minério de ferro e produtos agrícolas do interior da Bahia e oeste do Brasil para o Porto Sul. A mudança na bitola da FCA, alegadamente para unificar o traçado ferroviário, cria um efeito colateral grave: desvia cargas naturalmente destinadas ao Porto Sul para os portos da Bahia de Todos os Santos, especialmente o Porto de Aratu.

Essa alteração desequilibra toda a logística planejada para o corredor Oeste-Leste, favorecendo um fluxo que prejudica a competitividade do Porto Sul antes mesmo de sua consolidação. A Bahia perderia a chance de fortalecer um porto de águas profundas, capaz de atender navios de grande porte e reduzir custos logísticos para exportadores.

Além do enfraquecimento do Porto Sul, a mudança de bitola compromete o desenvolvimento regional. A FIOL não é apenas um projeto de transporte, mas um vetor de crescimento para o interior da Bahia, conectando áreas produtoras a um porto de exportação. Esse modelo descentralizado atrai investimentos, gera empregos e dinamiza a economia das cidades ao longo da ferrovia.

Se as cargas forem desviadas para Salvador, Ilhéus e toda a região sul e oeste da Bahia perderão oportunidades de negócios e desenvolvimento industrial.

Muitos mencionam o risco de desvio de cargas da FIOL para o Porto de Vitória, no Espírito Santo. No entanto, esse risco é mínimo, pois Vitória fica a 1.300 km de Tanhaçu (onde a FIOL entronca com a FCA), enquanto o Porto Sul está a pouco mais de 300 km. O verdadeiro risco está nos portos da Bahia de Todos os Santos, que, por estarem dentro do próprio estado, podem parecer uma alternativa natural, mas, na prática, representam um desvio de investimentos e oportunidades que deveriam fortalecer o sul da Bahia.

É preocupante que o Dr. Edgard Porto, diretor de estudos da SEI – órgão vinculado ao Governo da Bahia –, defenda uma tese que contradiz a lógica de desenvolvimento do próprio estado. O governo estadual é o principal mentor do Porto Sul, e a SEI deveria zelar pela viabilidade desse projeto, em vez de apoiar uma proposta que pode condená-lo ao fracasso.

A defesa dessa mudança de bitola favorece interesses comerciais específicos, especialmente da VLI, concessionária da FCA, e de empresas que já operam nos portos da Bahia de Todos os Santos. Em vez de fortalecer a infraestrutura portuária baiana como um todo, essa proposta apenas transfere vantagens para um grupo restrito, em detrimento do desenvolvimento equilibrado do estado.

Importante destacar que a concentração industrial na Região Metropolitana de Salvador absorve quase metade do PIB baiano. Quando surge uma oportunidade de descentralizar esse desenvolvimento, dotando o sul da Bahia de uma infraestrutura que impulsionaria sua economia, sempre há quem defenda o esvaziamento da ideia.
A SEI precisa se posicionar: essa proposta tem o apoio oficial do órgão ou reflete apenas uma opinião pessoal do seu diretor?

A FIOL e o Porto Sul são peças-chave para o futuro logístico da Bahia e do Brasil. O que está em jogo não é apenas um debate técnico sobre bitolas ferroviárias, mas o modelo de desenvolvimento que queremos para o estado.

As autoridades estaduais e federais precisam se posicionar claramente contra essa alteração, garantindo que o fluxo de cargas da FIOL seja preservado e que o Porto Sul tenha a carga necessária para sua viabilidade econômica.

Em artigo publicado em dezembro de 2024, já havia feito esse alerta. Apenas dois meses depois, surgem vozes defendendo o esvaziamento do Porto Sul.

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) deve avaliar essa proposta com máxima cautela, considerando seus impactos de longo prazo. Além disso, lideranças políticas e empresariais da Bahia precisam agir imediatamente para evitar que esse retrocesso se concretize.

O prefeito Valderico Júnior e lideranças estaduais, como o governador Jerônimo Rodrigues, o ministro Rui Costa e o senador Jaques Wagner, devem ficar atentos. O futuro do Porto Sul depende de decisões corretas agora.

Se essa mudança de bitola for aprovada, o prejuízo será irreversível. O momento de reagir é agora.

Fonte Política Livre

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