* Impressionante como situações do cotidiano nos lembram de fatos guardados em nossa memória, adormecidos em nossas longínquas e afetivas lembranças. Parece até uma coisa mágica, mas na verdade é uma das maravilhosas dádivas do Nosso Criador. Hoje, no café da manhã, fui me servir de uma rodela de batata doce e, no trajeto entre a vasilha e meu prato, a batata escapuliu do garfo e caiu dentro da xícara do café. Caiu tocando na borda da xícara, fato que me fez saudar o momento, dizendo alto: *Chuí!*. Janine, que estava ao meu lado, exclamou: "oxe, meu pai! Não é *Chuá*? Rindo muito, passei a explicar. No início dos anos 70, o esporte em Ilhéus fervilhava, de modo especial os esportes de quadra, pois a cidade tinha uma das maiores arenas desportivas, legado do então prefeito Herval Soledade, que empresta seu nome ao equipamento. Naquela época havia todas as modalidades esportivas em atividade: futebol de salão, basquete, voleibol (masculino e feminino), e também salto a distância, corridas rápidas e de fundo, que eram praticadas na pista do Estádio Mário Pessoa. Os jogos eram à noite, sempre às terças, quintas e aos sábados. Com as arquibancadas sempre cheias e a popularidade em alta, as atividades esportivas tinham transmissão por parte de emissoras locais e o maior entusiasta era o saudoso Paulo Kruschewsky, campeão em driblar as dificuldades para executar as transmissões. Era uma alegria só, porque ele não dispensava narrar os jogos levando consigo um isopor com algumas cervejas. Uma das dificuldades das transmissões é que no ginásio de esportes não havia cabines de rádio e, para resolver o problema, os equipamentos de transmissão eram montados no balcão superior, acima dos vestiários e sanitários que ficavam onde hoje está funcionando parte da SUTRANS. Certo dia, durante a narração de um jogo de basquete, depois de degustar algumas cervejas ao lado de Guerrinha (que gostava de assistir aos jogos do balcão), Paulo sentiu necessidade de ir ao banheiro, para jogar fora a cerveja de quem fora intermediário. Como o jogo estava em andamento, imaginou como fazer para não parar a narração. Com o desespero aumentando, olhou para o lado e viu Dalton Gomes, que era apaixonado por rádio e vivia doido para participar de uma transmissão. Não teve jeito, durante os segundos antes da cobrança da falta, disse-lhe: "Dalton, narra aqui um pouco, enquanto vou lá embaixo resolver um problema. É rapidinho". Dalton, com os olhos brilhando de alegria, aceitou na hora. Falta cobrada e o jogo em andamento, Dalton narrou a primeira cesta de sua vida. Exultando de alegria, virou-se para Guerrinha, que estava ao lado, e perguntou: "Guerrinha, como é que se diz quando a bola entra na cesta sem tocar no aro?". Incontinente com sua verve e tirocínio impressionante, o velho Guerra respondeu: "Quando entra sem tocar é *chuá*, e quando toca no aro é *chuí*". Pronto. Foi um festival de *chuí... chuí... chuí...* como nunca se viu numa narração esportiva! Tempos depois, Dalton Gomes se tornou advogado e eu sempre o tratava como *Doutor Chuí*. Ele ria e dizia: "Eita, Nazal, você não se esquece!".