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Pawlo Cidade

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ILHÉUS, TERRA DO JÁ FOI?

“Ilhéus é a cidade do já foi!”. Aposto que você já ouviu esta frase. Já foi isso, já foi aquilo, já foi aqueloutro. E de repente, você olha para os quatro cantos da cidade e vê que os 82 imóveis inventariados pela Lei 2.312, de 1º de agosto de 1989, que delimita o Centro Histórico de Ilhéus se conta a dedo. A lei nos diz que são “consideradas áreas do Centro Histórico as vinculadas a identidade da cidade, tanto por se constituírem monumentos históricos, quanto por referenciarem simbolicamente lugares importantes no âmbito do Município”. A lei ainda diz que devem ser mantidas as características arquitetônicas, artísticas e decorativas que compõem o conjunto de fachadas e dos telhados dos prédios. E é aqui onde eu quero chegar. A lei só garante a fachada! Isso significa que pode ser feito o que fizeram com a Casa do Coronel Adami de Sá, com a casa de Tom Lavigne, a antiga Pensão Coelho, etc etc etc.
Você já pensou se a Rua Jorge Amado, que outrora foi chamada de Rua 28 de junho, fosse completamente despoluída de suas enormes fachadas e placas modernas? De repente, teríamos uma outra rua, com fachadas históricas e de uma beleza inimaginável e altamente turística. Dá trabalho pensar num projeto como este? Não. Inclusive os donos ou locatários destes imóveis também poderiam participar com um incentivo fiscal do governo municipal. A Rua Jorge Amado poderia se transformar numa Rua 24 horas! A Rua Antônio Lavigne de Lemos, a Rua General Câmara (o militar gaúcho que lutou pelo Império na Guerra da Farroupilha e pelas campanhas militares no Uruguai) em grandes calçadões. Estas ideias não são novas e nem somente minhas. Muita gente pensa como eu. Mas tem muita gente também que vem perpetuando um discurso há mais de cem anos de que o moderno, o contemporâneo é que é importante.
Os que passaram por Ilhéus um dia se admiraram do seu progresso. Sobretudo nos anos 20 com seus magníficos palacetes, jardins e avenidas bem cuidadas, limpeza rigoroso da cidade, grande movimento das ruas e do porto. Se bem que naquela época já se vendia leite adulterado, havia muitos pedintes, muito jogo e uma prostituição escandalosa que é digna de uma outra crônica no futuro. Entretanto, foi nos anos 20 que as coisas também começaram a degringolar. Tudo em nome do tal desenvolvimento quando se iniciou a campanha para a construção da Catedral de São Sebastião no lugar da antiga capela. Dr. Eusínio Lavigne e Dr. João Amado queriam que fosse construída na emergente Cidade Nova, onde hoje é o Hospital de Ilhéus; o coronel Antônio Pessoa da Costa e Silva, que também foi intendente — e vale salientar que foi o intendente que mais arborizou e edificou jardins em Ilhéus — queria que fosse no lugar da antiga capela. E foi o próprio Antônio Pessoa que iniciou uma campanha acirrada no seu jornal Correio de Ilhéos, contra a linda capela que ele disse ser “abarracada e arcaica”, no editorial de 18 de fevereiro de 1928. Era preciso construir naquele lugar uma igreja que pudesse “dar uma morada condigna para receber ali as homenagens que são devidas, a sua soberania, majestade, as orações dos fiéis, dos pecadores”. Como se Jesus Cristo só abitasse em templos suntuosos.
Talvez até você possa me questionar: e o que tem de errado construir um templo suntuoso, que enche os olhos de quem o vê? Nada. Nada de errado. Errado está em querer apagar a nossa história, a nossa memória. Não podiam seguir a proposta de Eusínio? Hoje teríamos um templo do século XVIII, mais visitado que a atual Catedral de São Sebastião.
Não podemos esquecer que Ilhéus, e eu faço minhas as palavras do Dr. Eusínio Lavigne, ditas em 28 de junho de 1931: “Ilhéus é uma cidade de tradição. Não perder esta tradição, não esquecê-la, amá-la na sua função de energia criadora, é unificar o sentimento”.

Por: Redação O Tabuleiro
Dia 17/03/2025 07h54

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