
Já está disponível em várias livrarias do país, meu novo romance, Rio das Almas. O título, como sempre, busquei inspiração no nosso povo, na nossa gente, nas nossas histórias populares, no nosso modo de viver e ser. Eu só escrevo um romance, um conto ou uma crônica, depois do título. Se não tiver um título, não escrevo nada. Posso até mudar o título depois, mas, primeiro, tem que ter o título. Foi assim com “O Povoado das Onze Mil Virgens”, que eu lancei no ano passado e agora com “Rio das Almas” que acaba de ser lançado pela Editora portuguesa Chiado Books.
Na história do Brasil, 1968, foi o ano que não terminou por uma série de motivos políticos e civis. Coincidentemente, foi também o ano que eu nasci. Para o pequeno povoado de Rio das Almas, que pertence ao fictício município de Betânia, o final da década de sessenta foi testemunha de uma série de ressurreições públicas que colocou em xeque os limites entre a vida e a morte. Isso mesmo, ressurreições. Rio das Almas, o povoado dos “Santos”, a família dos olhos violetas, e de Deocleciano Pimenta, o filósofo suicida que tentou tirar a própria vida milhares de vezes, retrata a história de um lugar que conheceu seu apogeu nos tempos áureos da mineração e da ferrovia, mas foi sucumbinda aos poucos desde a fatídica tragédia de 1949.
Uns dirão que Rio das Almas é uma história de pecados; outros, que se trata de uma alegoria da morte. Para mim, que a escrevi, é a vida de um velho apaixonado e seu inimigo desequilibrado; de uma Maria que virou bicho, de muitas Marias de muitos segredos, e de um excomungado. É uma história de mil contos, três assombrações e um monstro.
O rio das almas vivas, das almas peregrinas e das almas penadas é, do mesmo modo, o rio de Zé Romão Batista e Miguel Cervantes, o andarilho; Deocleciano e Maria Eunice, Pedro e Garcia, Jorge Baraúna, Tonho Deveras e dos gêmeos Avelino e Ariovaldo, filhos de Jason e Josué, mas nascidos de uma única mulher.
É uma absurda história de uns santos Demônios e de uns demônios Santos. Quisera eu esquecer dos redemoinhos, da chegada dos pardais e do misterioso sumiço do menino invertido. Rio das Almas é, definitivamente, a passagem do que já foi, de dois burrinhos pedrês, uma mulher pombinha que virou uma joaninha e um padre holandês, que ao desembarcar em terras tupiniquins, se encantou com as nativas de ancas largas e seios volumosos. “É aqui que eu quero morar!”, e caiu de joelhos, beijando o chão, num gesto que foi repetido por muitos religiosos que vieram depois dele.