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O ROMANCE DE ONÍLIA E ZÉ PERRI: UM AMOR BAIANO NO CORAÇÃO DO PEQUENO PRÍNCIPE

O ROMANCE DE ONÍLIA E ZÉ PERRI: UM AMOR BAIANO NO CORAÇÃO DO PEQUENO PRÍNCIPE
Por: Redação O Tabuleiro
Dia 21/07/2025 10h01

Por Isaac Albagli

Na pequena vila de Campinhos, no litoral de Maraú, entre coqueiros, areia batida e o sussurro do mar, viveu uma história que a literatura francesa jamais registrou — mas que o povo da Península de Maraú guarda na memória com ternura. Ali, no começo do século XX, Antoine de Saint-Exupéry, o aviador e escritor que o mundo conheceria como o autor de O Pequeno Príncipe, viveu um amor silencioso e duradouro com uma jovem negra chamada Onília Ventura.

Foi durante uma das rotas da Compagnie Aéropostale, nos anos 1930, que um problema mecânico obrigou o piloto francês a pousar em Campinhos. Na época, a pista de Salvador ficava intransitável em dias de chuva, e a estreita faixa de areia da vila servia como ponto alternativo para aviadores em emergência. Sem alternativa imediata, Exupéry ficou ali por semanas — alguns dizem meses — à espera de mecânicos que viriam da capital consertar o avião.

Enquanto esperava, seu tempo se entrelaçou ao de Onília, moça de fala suave e olhar profundo, filha da terra e do mar. Era negra, pobre e analfabeta — e talvez por isso mesmo, tão invisível aos olhos do mundo quanto essencial para quem sabia ver com o coração, como ensinaria o próprio Exupéry. Os moradores contavam que ele lhe pedia em casamento; ela recusava, mas nunca o esqueceu. Onília não se casou. Ficou, para sempre, à espera do “francês de olhos azuis” que chamavam de “Zé Perri”.

O engenheiro civil e velejador Juvêncio Barbosa, ex-morador de Ilhéus e conhecedor profundo da Península de Maraú, afirma saber onde está a antiga escrivaninha de madeira feita sob encomenda para o escritor. Pequena, baixa e rústica, teria sido o local onde Saint-Exupéry escrevia cartas, refletia sobre o céu e talvez começasse a esboçar as ideias que, anos depois, dariam origem a sua obra mais famosa. Juvêncio passa temporadas em Barra Grande, próxima a Campinhos, e é um dos guardiões dessa memória viva. Anos atrás, na casa do saudoso Diel Badaró em Barra Grande, conversei com Juvêncio sobre esse episódio.

Onília guardava consigo um exemplar em francês de Le Petit Prince, que teria sido entregue por uma parente de Exupéry, talvez irmã ou sobrinha, que anos depois visitou Campinhos para conhecer a moça que marcou a vida do aviador. A visita teria ocorrido discretamente, e o livro foi mantido como um relicário de afeto.

Mas o reencontro jamais aconteceu. Em 31 de julho de 1944, durante uma missão de reconhecimento militar no Mar Mediterrâneo, Saint-Exupéry desapareceu para sempre dos céus que tanto amava. Seu avião, um Lightning P-38, foi dado como perdido em ação. Restaram o silêncio e o luto.

Onília jamais soube ao certo o destino de seu Zé Perri. Continuou a viver em Campinhos, como se ele pudesse ainda aparecer um dia, deslizando do céu como naquela primeira vez.

Entre a lenda e a história, a verdade permanece envolta em brumas, mas na memória dos mais velhos de Campinhos, Onília existiu, amou e foi amada por Saint-Exupéry. Foi ela, e não o piloto, quem disse a frase que talvez melhor resuma toda a história:

“ ... me pediu para ir com ele, mas minha terra é aqui. E a dele, o céu.”

Assim, enquanto os livros contam o voo do francês pelos céus cortando os desertos, o povo de Maraú guarda o capítulo esquecido — mas não menos belo — da vez em que O Pequeno Príncipe pousou na terra de Iemanjá, e amou uma rainha sem coroa chamada Onília.

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