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Pawlo Cidade

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CULTURA É DIREITO DE TODOS

A gente ouve de alguns agentes culturais em vários congressos, simpósios, encontros multidisciplinares que o desmonte institucional da Cultura marca de vez o fim de um processo que ainda estamos construindo. E que o fim do Ministério da Cultura foi o prenúncio de uma derrocada que teria um efeito cascata nos Estados e Municípios. Ou seja, se acabou ministério, vão acabar também as secretarias estaduais e as municipais. Isso é mentira. Eu já disse uma vez e vou repetir: O sistema municipal de cultura é mais forte que o sistema nacional.

Corre a boca miúda também que o governador Rui Costa ventila a ideia de unificar a Secretaria da Cultura com alguma outra pasta. Tudo em nome do bendito contingenciamento. Diga-se de passagem, que ele, o tal contingenciamento, só é válido para a cultura. As demais pastas sofrem cortes que mais parecem pequenos arranhões. Na cultura eles querem extrair um membro inteiro. Deixa a miserável da cultura capengar, perder braço, perder perna, até morrer. Mas a gente não morre não. Somos resilientes. Somos fortes. E já provamos isso uma vez.

Os municípios tendem a seguir a mesma lógica. Tudo em nome da economia. Como se os cortes do orçamento – que nem existe – fosse influenciar as contas do governo. A gente está cansado de saber que o orçamento – pelo menos na cultura – é uma peça de ficção! Estima-se dois, três, quatro ou cinco milhões, mas na hora de usar, cadê o dinheiro?

A gente precisa parar com esse discurso. Esse discurso que nos vitimiza, que nos coloca como coitadinhos que precisam das merrecas do Estado e partir para cima. Nós precisamos sim de investimento, de infraestrutura, de apoio. Já pensou - como desejava o saudoso poeta Wally Salomão – se na cesta básica do trabalhador brasileiro, além do feijão, do arroz, do café, da bolacha tivéssemos também um livro como gênero de primeira necessidade? A gente tem direito a saúde? Tem. A gente tem direito a educação? Tem. A gente tem direito a cultura? Tem também! E o Estado precisa entender que isso é direito nosso. Se é direito nosso é obrigação de vocês, gestores públicos. O artigo 215 da Constituição Federal é bem claro. Mas se precisar desenhar, a gente desenha. Temos direito às fontes da cultura nacional! Vocês têm que apoiar, incentivar, difundir e valorizar nossas manifestações culturais!

Tem que proteger as culturas populares, os indígenas, as comunidades de matriz africana, e toda e qualquer minoria que se sentir prejudicada. Tem que defender o patrimônio cultural em detrimento do desenvolvimento capitalista. A história vem em primeiro lugar, a memória vem acompanhando. Tem que dar formação, tem que colocar gente qualificada nos órgãos da cultura; tem que parar de brincar de produzir, deixa isso para os artistas, para os produtores culturais. Democratizem o acesso aos bens culturais, eliminem as dificuldades, promovam a participação da sociedade. E, por favor, não esqueçam de valorizar a nossa diversidade ética e regional. O nosso povo múltiplo é plural, por isso somos tão diversos.

Mas tem um detalhe em tudo isso. O respeito às nossas tradições, a ser quem somos, passa primeiro por você, meu amigo ou minha amiga fazedora da cultura. Tem que parar de baixar a cabeça e continuar aceitando migalhas. Deixa isso para os cachorrinhos.

Por: Redação O Tabuleiro
Dia 08/08/2019 16h58

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