Você perdeu alguém nesta pandemia? Você foi surpreendido ao saber que seu melhor amigo foi vítima do Covid19? Se você respondeu sim, bem-vindo ao clube da despedida.
Nunca, em toda a história deste Município, ocorreram tantas despedidas de amigos, conhecidos, parentes e aderentes. Aderentes são aqueles amigos mais que irmãos, que entram na sua vida para nunca mais sair. Perdemos empresários, esportistas, crianças, jovens, adultos e idosos; professores, médicos, enfermeiros, motoristas. Lembro que bem no início da pandemia, Ilhéus havia registrado apenas um caso e se dizia que nós não seríamos atingidos pela onda que se intensificou em Itabuna, Salvador, Porto Seguro. Mas nossas barreiras sanitárias não foram eficientes e nossa população fez pouco caso do fato.
Uns diziam, como um vírus tão distante, lá nos confins da China, iria chegar aqui em Ilhéus, no interior da Bahia? E, de repente, você descobre que seu vizinho tem uma filha que morava em Wuran e que ela havia acabado de chegar da China, trazendo consigo um inimigo invisível, aparentemente inofensivo, que fez o maior estrago do mundo. Com isso não estou afirmando que foi assim que o vírus chegou a Ilhéus, já que o paciente zero da cidade foi um médico, diagnosticado no dia 26 de março de 2020 e que disse ter atendido vinte pacientes no dia que sentiu os primeiros sintomas. E aí, você já sabe, mais de quatrocentos mortos até hoje.
O fato é que 2020 ficou sendo conhecido como um ano que nem sequer iniciou. E agora, caminhando para o meio do caminho de 2021 percebo que este ano não será diferente. As cepas têm aumentado, os casos triplicados e a gente continua nas ruas, continua realizando festinhas particulares, vai a boates, se espreme em filas indianas gigantescas nos bancos e também para ser vacinado, sem o mínimo distanciamento social.
Enquanto isso, vamos nos despedindo, de longe, sem poder abraçar, sem poder se debruçar sobre o túmulo do amigo, da amiga, do tio, do irmão, da irmã, do avô, da avó, do aderente que se vai. Em pouco tempo, seremos corpos secos, sem lágrimas, sem lamentos. Por quanto tempo mais o adeus será um ato contínuo em nossas vidas? Eu gostaria que fosse por pouco tempo. Gostaria mais ainda que os bons continuassem por aqui. Mas quem sou eu para decidir quem vive e quem morre? Sou, como você, um mero instrumento deste universo tentando dar o melhor de mim para o outro. Pois só desejo para você, tudo aquilo que desejo para mim.