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O Tabuleiro

Marcolino Reis

Marcolino Reis

ILHÉUS, LIBERTE-SE E FUJA

De todos os amores que já tive, você foi o meu primeiro. Ilhéus, minha cidade, minha terra, meu orgulho, meu amor.

Esse primeiro parágrafo, trecho do hino de Ilhéus, provavelmente cantarolado por tu enquanto lia, é um convite ao pertencimento. Sentir-se parte de um todo. Pertencer.

Para quem compreende Ilhéus em sua totalidade histórico-econômica e sociológica, sabe que chamado à reflexão é este. Neste artigo, nesta data tão simbólica, aniversário de elevação à categoria de cidade, um dos territórios mais escravistas-cacauicultor da nação brasileira, iniciamos o despertar libertador de começarmos a refletirmos sobre qual Ilhéus teremos no completar de seus quinhentos anos.

Queremos um território (ainda) sem projeto socioeconômico popular? Um município com pouco ou nenhum diálogo com as periferias, quilombos, aldeias e assentamentos? Queremos uma cidade sem projeto de cidade cidadã, paternalista e herdeira das mazelas escravocratas? Ou queremos uma outra Ilhéus?

O debate é mais profundo do que o simplista debate de uma "princesinha do sul" ou "cacau num sei quê". O debate é sério e sobre presente participativo para um futuro em que nós jovens, devido a falta de renda, empregabilidade e trabalho, sejamos desobrigados a abandonar este que é nosso primeiro amor. O hino diz correto. Ilhéus é nosso primeiro amor. Mas como amar sem pão e rede para descansar?

Recentemente a Câmara debateu em Audiência Pública a Política de Economia Solidária. Viva! É esse o caminho? Sabemos que são vários os caminhos possíveis. Tem as pessoas que tentam encaminhar Ilhéus.

Ilhéus é um território de tristeza e maus tratos. Pra quem pouco sabe, nos anos oitocentistas diversas fazendas de procriação criadas após a proibição do tráfico de escravizados feitos por navios negreiros. foram elas a alternativa de muitas famílias escravocratas tiveram como solução para repor escravizados em suas lavouras de Café, Açúcar e Cacau. E fazendas de procriação significa mulheres africanas escravizadas e suas descendentes estupradas diuturnamente para darem a luz como modo de continuar esse mercado escravista que definia os corpos negros como mercadorias. Se alguém já contou nossa história, mostrando São Jorge de Ilhéus, com cheiro de cravo e canela, com o ouro do nosso cacau, esqueceu de contar essa parte real da historiografia ilheense.

O compositor acertou ao dizer que de todas as riquezas de Ilhéus, a nossa gente é a maior. Por que foram com o sangue, suor, saúde, energia e tempo de existir que nossa gente construiu as riquezas pouco compartilhadas dessa terra.

A felicidade de quem escreve essas linhas irá chegar quando a rebelião cidadã das juventudes que se foram, retornarem para cumprir a missão ancestral de conquistar a gestão, administração e os rumos dessa Ilhéus, nossa casa. É para essa tarefa que serve este chamado.

Ilhéus, liberte-se e fuja para na fuga encontrar-se consigo mesmo.

*Marcolino Vinicius Vieira é Poeta Ilheense, Graduando na Universidade Salvador em Gestão Pública e Membro da Coordenação Nacional da Juventude MNU (Movimento Negro Unificado).

Por: Redação O Tabuleiro
Dia 30/06/2021 10h29

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