Na última terça feira (27) vazou áudio do ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, onde o mesmo afirma que tomou a vacina escondido: “Tomei escondido, né, porque a orientação era para não criar caso, mas vazou. Eu não tenho vergonha, não. Tomei e vou ser sincero. Como qualquer ser humano, eu quero viver, pô. E se a ciência está dizendo que é a vacina, como eu posso me contrapor?”.

Pergunto-me: por que há essa orientação interna? Por que o governo prefere agir contrário a todos os outros, os quais noticiam seus vacinados a fim de criar uma rede de incentivo?

Feita essas perguntas, faço uma rápida análise do discurso na afirmação vazada, isso porque, é no mínimo estranho o sentimento que o ministro escolheu para descrever sua vacinação: vergonha. Ele diz: eu não tenho vergonha... tomei e vou ser sincero. Mas por que isso seria motivo de vergonha? Há uma fala interna no governo que menciona vacinação como algo vergonhoso? Mais do que isso, fica claro a tensão interna entre ciência e senso comum, o que descreve o tom da cantiga ideológica executada.

Mais uma vez, relembro conceitos já ditos aqui nas colunas: mentalidades alimentam mentalidades, comportamentos alimentam comportamentos, ideologias alimentam ideologias. Aliás, isso não é muito difícil de perceber, inclusive em figuras do governo como o atual ministro da saúde: “Se todos os brasileiros usassem máscaras, teríamos efeito quase igual ao da vacinação. Então, usar máscara é uma obrigação de todos os brasileiros, [assim como] evitar aglomerações fúteis”.

Portanto, encerro fazendo mais uma pergunta: a quem interessa esse cenário? Quais os objetivos? Por que contrariar as medidas do próprio ministro? E por que, definitivamente, um ministro precisa se vacinar escondido?