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RILTON FILHO

RILTON FILHO

RACISMO É O COMBUSTÍVEL DA BRANQUITUDE

Uma das provas de que o racismo é propagado propositalmente, ou com se diz tecnicamente, estruturalmente, é que muitos leitores estranharam a palavra “branquitude”: “o que será isso?”; “será que significa ter atitude de branco?”. Não é culpa sua desconhecer esse conceito, apenas prova que não ensinamos e, consequentemente, não aprendemos sobre as questões de raça. Deixe-me falar rapidamente sobre esse conceito. Branquitude é um conjunto de práticas tomadas por brancos ao longo da história, cujo perfil é de normalizar tudo que fazem, exemplo: seu cabelo é o normal, sua roupa, sua música, seu jeito de agir, sua cultura, sua ideologia, sua religião etc. Em resumo, branquitude é a forma de dizer que só o branco deve existir.

Os estudos sobre raça, a partir de um autor clássico chamado Franz Fanon, percebeu que negros também podem ser enquadrados na branquitude, isto é, ao contrário de tentarem assumir sua negritude que consequentemente reclama à branquitude, ele se rende ao branco. Diz Fanon: “ser branco é o único destino”, neste caso. Nesse sentido, é verdade que poucos negros assumem a sua negritude no Brasil, o que fortalece os mecanismos da branquitude que ficam cada vez mais a vontade em suas práticas e discursos, aliás, nossa cidade experimentou isso tudo que me refiro: a voluntária Thaís Carvalho sofreu racismo ao ser rejeitada por um homem que exclamou: não quero ser vacinado por você, porque você é negra.

Essa é a brutal marca da branquitude que, como bem diz Fanon, “discrimina, pretende que o negro seja um parasita no mundo, que me resta acompanhar rapidamente o mundo branco”. Thaís, possivelmente de máscara e jaleco, foi identificada como negra pelas frestas da sua brilhante negritude. Acha que a branquitude age somente neste homem? Não! São muitos os comentários que desacreditam da Thaís e a colocam como uma “esperta”, “golpista que quer mídia”, pelo fato da mesma não ter respondido prontamente ao homem, nem tê-lo identificado. Pobres pessoas! Thaís gritou para dentro, porque parece ter vivenciado pela primeira vez a dor do racismo.

Nos resta lembrar de um outro autor clássico do pensamento negro: Aimé Césaire. Ele escreve: “E sobretudo meu corpo, assim como minha alma, evitem cruzar os braços em atitude estéril de espectador, pois a vida não é um espetáculo, pois um mar de dores não é um palco, pois um homem que grita não é um urso que dança”. Se alguém acha que o relato (grito!) da Thaís é um espetáculo, ou está com a alma adoecida, ou carece de despertamento social. Acorde! A menos que você queira continuar alimentando a branquitude que ofende, massacra e mata pessoas negras.

Por: Redação O Tabuleiro
Dia 26/05/2021 08h00

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