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O Tabuleiro

Pawlo Cidade

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NÃO PUDEMOS TE VELAR

Nós, seus irmãos, não estávamos distantes para não ter podido velar o seu corpo. Nós, não estávamos com raiva de você, nem disputando qualquer coisa por não termos podido te velar. “A culpa é desta gripezinha de merda” que vem ceifando homens, mulheres e crianças. Mas me sinto culpado por ter quebrado uma tradição de séculos contra a minha vontade. Nós queríamos estar ali, a noite inteira, velando seu corpo, chorando sobre seu ataúde.

Fico pensando no grande número de amigos, parentes e conhecidos que gostariam de estar aqui agora para se despedir de você. Sua alegria, suas histórias, seu respeito pelo outro eram contagiantes. Você não media esforços para estender a mão, para dar conselhos, para abraçar, para dizer “também te amo, meu irmão”. Eles não puderam estar aqui fisicamente, mas em espírito todos vieram. Todos mandaram mensagens, e muitos choraram distantes a dor de não poder vê-la pela última vez. Tenha certeza disso.

Agora, neste momento, você se junta a nossos pais, contra a nossa vontade. Agora, neste momento, você pode abraçá-los e dizer que estava morrendo de saudade. Pode chorar de alegria, pode contar a eles como viveu gloriosamente meio século. Não se preocupe, eles vão te reconhecer. Não se preocupe, Deus é bom. E há de perdoar o que, porventura, você tenha falhado. Há de perdoar o que, por acaso, você deixou de fazer. Beija dona Marita, beija seu Getúlio, dá um abraço bemmm forte em cada um e diz: “Breve, eles se juntarão a nós!”.

Eu queria poder dizer mais coisas, mas não consigo parar de chorar. Só fica a saudade martelando no peito, apertando a alma, sufocando o espírito. É bom acordar e saber que, mesmo distantes, somos unidos. É bom acordar e saber que você vai responder uma mensagem minha no celular. É bom acordar e saber que eu posso te ligar a qualquer hora do dia ou da noite e você atender. Mas agora eu vou acordar e nada disso vai fazer mais sentido.

Adeus, “Cassinha”, “Kátia”, “Pata”e tantos outros apelidos carinhosos que sua tia Lúcia lhe colocou. Adeus, minha irmã corajosa, guerreira, líder, inteligente, professora, amada. Adeus, Cássia Fabiana. Adeus!

Eu não podia deixar de lhe escrever esta carta. Eu queria até saber sua opinião, como faço com meus livros, se você gostou ou não do que acabei de lhe escrever. Rs. Mas eu nunca vou saber. Você não está mais aqui.

Sabe, não sou bom em discursos, mas tento exprimir o melhor de mim com palavras jogadas no papel, com versos sem rimas, mas cheios de sentimento e amor. Me desculpe, mana, se alguma vez falhamos com você. Mas não se preocupe, você será homenageada e eternizada nas minhas histórias, como o faço agora.

Sabe o que eu acho deste mês? Agosto não é um mês de desgosto, como se apregoa por aí. É um mês de gostar, de saber que é tempo de gostar, de amar o outro, de recordar, de trazer à memória aquilo que nos dá esperança. É um tempo do gosto, do prazer e será, eternamente um mês para lembrar do seu sorriso, de suas brincadeiras, suas histórias. Enquanto eu viver, você será a vela que não se apaga, a saudade que a gente não quer esquecer, o sorriso que a gente não quer ver se apagar. Bob, Celinha, seus amigos e amigas, seus colegas de trabalho sentirão muito a sua falta. E nós, também.

Vá em paz!

Por: Redação O Tabuleiro
Dia 27/08/2020 07h42

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