Era 18 de junho de 1978 quando Robson Silveira da Luz, feirante negro de 27 anos, acusado de roubar frutas em seu local de trabalho, foi levado para o 44º departamento de polícia de Guaianazes, zona leste de São Paulo. Torturado e morto por policiais militares. Fazia 90 anos da abolição da escravatura.
Em resposta a esses fatos, um grupo de militantes negros se reuniu em um casarão para discutir a construção de um movimento que pudesse mobilizar o Brasil contra a discriminação racial. “Éramos eu, Abdias do Nascimento, Lélia Gonzalez, os irmãos Celso e Wilson Prudente e muito mais gente”, lembra Hélio Santos, doutor em economia, administração e finanças e militante do movimento negro brasileiro. Manhã gasta em debate, o nome que prevaleceu foi Movimento Negro Unificado – nascia assim o MNU.
Era um dia como outro qualquer, 7 de abril de 2019. Oitenta tiros. O equivalente a quatro carregadores completos de um fuzil calibre 7,62 do Exército. Oitenta projéteis de calibre 7,62 destroem muita coisa: paredes, portas, janelas, carros, gente. Nesse domingo datado, na Zona Norte do Rio de Janeiro, destruíram uma família, mesmo matando apenas uma pessoa, o músico Evaldo Rosa dos Santos. Por um milagre não foi outra chacina das centenas Brasil adentro. Seu sogro ficou ferido. Sua mulher perdeu o rumo. Seu filho de 7 anos viu o pai ser morto. Por obra e des-graça do braço forte e a mão amiga de dez militares do Exército. A mão do comando (dos oficiais) não puxaram o gatilho, mas está suja de sangue.
Era uma linda manhã, umas 7h30 do dia 24 de outubro de 2014. Davi Fiúza desaparece enquanto conversava com uma vizinha na Rua Vila Verde, em São Cristóvão na Capital Salvador. Levado por um grupo de homens. Duas semanas depois, a mãe do adolescente de 16 anos, Rute Fiúza, divulgou o caso, acusando policiais militares pelo sumiço. Quatro anos depois, 17 Policiais Militares são indiciados por homicídio qualificado:
Grupo com 2 tenentes, 2 sargentos e 13 soldados-alunos fazia operação final para obtenção do diploma de soldado. Em abril de 2016, Rute Fiuza declarou que o filho foi vítima de “um batismo de 19 policiais militares que estavam se formando soldados na Bahia.”
Memória é saber quem somos, de onde vinhemos e para onde iremos. Saber o que fizeram com os nossos de ontem e fazem com os nossos hoje. Mais algumas semanas a mídia esquecerá. O executivo mudo seguirá, o Judiciário cego permanecerá e essa família chorando continuará. Mas continuemos firmes dizendo que vidas negras importam. Enquanto uns culpam o chá de bebê, só há uma coisa a dizer: Levante Negro.