Eu não arrisco opinar em política. Até tento, mas desisto. Sou fã de quem consegue fazer uma análise do cenário e prever as mudanças, os arranjos, os conchavos. Porém, quando o assunto é política pública, sobretudo, Política Pública de Cultura, aí é outra história. Não tenho medo de desafiar, de opinar, nem de ser desafiado. Estudei projetos, programas, redes colaborativas. Conheço de estratégias e de planejamento estratégico, de processos internos e de instrumentos que, aliados às instâncias governamentais, podem trazer resultados concretos.
Sei muito bem como estabelecer uma missão de uma instância governamental e levar seus colaboradores a terem a mesma visão da instituição. Mas isso exige estudo, tempo, trabalho, ações a médio e longo prazo. É um grande jogo cheios de erros e acertos, de acreditar e ser acreditado. De tomar decisões que desagradam uns, mas, no fundo, beneficiam todos. E isto ocorre porque a grande maioria dos artistas não conseguem enxergar a coletividade. Estão preocupados com seu bolso, seu estômago, seu projeto particular.
E digo mais, para que os projetos e os programas saiam do papel é preciso ter um gestor público que entenda a Cultura como uma necessidade básica, uma questão essencial e indispensável. Será que um dia teremos alguém na linha de frente do Poder Executivo que pense assim? Alguém que enxergue a Cultura como um fator crucial de desenvolvimento político, econômico, ambiental e social? Alguém que se sente com o gestor cultural e diga: “Secretário, eu tenho aqui X milhões! Como a Cultura pode contribuir com a diminuição do tráfico de drogas no subúrbio? Como a Cultura pode ajudar a diminuir a taxa de evasão escolar? Como a Cultura pode interferir no processo de ensino e aprendizagem e melhorar o índice de desenvolvimento da educação básica? Como a Cultura pode contribuir na coleta de lixo de nossa cidade? Como a Cultura pode contribuir na prevenção a gravidez na adolescência? Secretário, a Cultura pode me ajudar a ampliar a arrecadação de nossas receitas próprias?”.
A resposta para todas estas questões é SIM. A cidade é movida pela Cultura. E não se trata aqui de preciosismo, utopia, favoritismo. Pergunte a um dramaturgo se ele tem um projeto para tornar uma escola mais criativa. Entreviste um escritor e pergunte o que ele faria para melhorar o estímulo a leitura. Pergunte a um palhaço o que ele inventaria se tivesse a chance de levantar a autoestima de crianças e adolescentes internados nos hospitais. O que um grupo de teatro seria capaz de fazer para diminuir o lixo das praias?
Pela Arte e pela Cultura, a gente reeduca, reaprende, aprende e entende que é possível conviver com as diferenças, que é possível construir redes e pontes, que as relações são uma via de mão dupla. O que vai, vem. Cultura também é matemática. Está no campo dos números, dos conjuntos, das intersecções. Toda esta inventividade pode parecer mesmo uma utopia. Mas, observe, só a faca e o queijo não são suficientes. Você precisa gostar do queijo, dividir o queijo, e torcer para que os outros gostem também de queijo. Afinal, tem muita gente aí intolerante a lactose. Mas estes, eu quero mais é que morram de diarreia cultural.