
“Não se combate crime, cometendo crime!”, ao ouvir a frase esta semana do ministro Gilmar Mendes, no julgamento da suspeição do ex-juiz Sérgio Moro, eu fiquei matutando aqui com minhas caraminholas sobre como o poder é capaz de corromper as pessoas. O que não é nenhuma inverdade. Exemplos e mais exemplos desta afirmação vimos, todos os dias, bem pertinho da gente. Quando a gente fala em corrupção, a primeira imagem que vem à mente é de receber dinheiro, muito dinheiro, para cometer um delito e esquecemos que a corrupção é um vírus muito mais generalizado do que pensamos. Assim, para além do suborno ou da propina como vocês queiram chamar, tem a miséria do nepotismo, o tal tráfico de influência, a extorsão, a utilização de informação governamental privilegiada para fins pessoais ou de pessoas amigas e parentes, a compra e venda de sentenças judiciárias, como aconteceu recentemente no judiciário da Bahia, o recebimento de presentes ou de serviços de alto valor por autoridades. Essa necessidade de poder, de status, de querer estar acima da maioria dos mortais, se transforma, na mão das pessoas uma arma tão nociva, mais tão nociva, que em nome da lei e da ordem, os homens promovem a desordem e, consequentemente, a corrupção. E ela ainda pode ser classificada como corrupção ativa e passiva. A corrupção ativa diz respeito ao ato de receber vantagens em benefício próprio. É aquele “por fora” que o indivíduo oferece para facilitar uma movimentação ou atrasar um determinado processo. E a passiva é quando o colaborador aceita receber vantagens para si mesmo ou para outrem em troca de alguma coisa. E você pensa que a corrupção é somente ativa e passiva? Tem a chamada corrupção necessária. Isso mesmo, “corrupção necessária”. Como um mal, tão miserável, pode ser necessário? Pois é, a corrupção necessária é aquele tipo de contrafação que o “cabra” recorre a uma ação corrupta com o objetivo de agilizar processos e embaçar burocracias para obter um serviço autorizado pela lei. Ela é chamada assim porque o objetivo final é legal, mas o meio para se chegar a ela é ilícito. É aquela história de você ter um amigo num determinado órgão e pedir a ele que, “dê um jeitinho, em nome de nossa amizade”, para agilizar o processo ou colocar o pedido diretamente na mesa do chefe, entende? Além destas que acabei de mencionar, tem ainda a corrupção preditiva e a corrupção lateral. Eu podia ficar aqui exemplificando ou conceituando sobre elas, mas o tempo é curto e para ele ser mais longo eu teria que usar da minha amizade com Vilanova e pedir a ele para colocar um tempo maior para meus podcasts. E, claro, isso não seria corrupção, seria por merecimento. Será mesmo? Tenho cá minhas dúvidas. Enfim, essa doença social, sim, é uma doença, uma pandemia, um vírus global que nos ronda também nos superfaturamentos. O superfaturamento é um negócio tão, tão... Vou privar vocês do palavrão e explicar como funciona: A prefeitura abre uma concorrência para escolher qual dentre três empresas vai executar determinado projeto. Então, essas três instituições entram em acordo para que o projeto seja superfaturado. Ou seja, põem o preço lá em cima. Se todo mundo está com o preço alto, aquele preço passa a ser o preço de mercado. Por fim, uma delas é a escolhida para executar o projeto. As outras duas empresas que “perderam” levam vantagens por fora do “vencedor”. É uma corrupção ativa. A corrupção é mesmo uma praga no direcionamento das licitações, na inserção de dados falsos em sistemas de informação, na emissão de notas fiscais “frias”, muitas vezes com a participação de pessoas politicamente expostas (PEPs). Por falar em pessoas politicamente expostas (PEPs), dá um outro texto, um novo podcast. E olha que eu comecei este texto de hoje pensando numa coisa e acabei enveredando por outra. Fui corrompido pela minha própria mente. Oh shit!