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O Tabuleiro

Ramayana Vargens

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Dever mal feito

Educação começa em casa, o primeiro espelho do mundo que a criança tem acesso. Portanto, a possibilidade de se promover uma boa educação depende de comida, saúde, trabalho, moradia e segurança – condições fundamentais para a família ter meios de cuidar de seus filhos e desempenhar sua missão educativa. Assim, a gestão pública não pode considerar a Educação dissociada das diversas políticas que interferem e direcionam a vida da população. Educação exige uma ação integrada dos órgãos de governo e deve ser o centro das possibilidades e metas de desenvolvimento.

Educação é um processo que se desenvolve a vida inteira. Desabrocha no seio familiar, mas é moldada pela estrutura social. A formação escolar amplia conhecimentos e descortina os primeiros horizontes para a concretização de sonhos e objetivos da criança. As relações com a comunidade ensinam, através da prática, as regras de conduta e os limites da satisfação pessoal. A Universidade e a experiência profissional fornecem o aperfeiçoamento intelectual e técnico, que potencializa talentos e competências para a ação produtiva e transformadora na sociedade. Eis porque Educação não pode ser vista (muito menos conduzida) como objeto estanque, solto no espaço, circulando em órbita independente, desligada da realidade que envolve o mundo de cada pessoa. Não é cabível encolher, “contingenciar”, ou usar como moeda de troca o obrigatório suporte à Educação.

Não é admissível o desprezo, a insolência e o desprezo com que a Educação é tratada, hoje, no Brasil. A situação caótica e deplorável não começou agora, mas nunca tivemos decisões governamentais tão acintosamente contra a Educação. A engenharia do passado pode ter sido falha na construção do edifício do ensino no país. Mas isso não justifica que (para alimentar a fogueira da Economia) se tire as madeiras que sustentam os pilares mal feitos e abalados. Ao contrário, é hora de investir na recuperação das estacas e das rachaduras no prédio. No entanto, parece que as medidas oficiais pretendem detonar, e demolir rapidamente, as paredes trincadas que ainda permanecem em pé. Típica operação arrasa quarteirão (expressão militar que define bombardeios de alta destruição durante a guerra).

Não existe lógica, nem manifestação de humanidade, no banimento da Filosofia da grade curricular. É negar a evolução do pensamento humano e desmerecer o quanto nossa curiosidade investigativa contribui para o avanço das Artes, da Ciência e do entendimento entre os seres. O animal racional é chamado assim devido à sua capacidade de filosofar – sem ela não teríamos chegado aos avanços tecnológicos. Será que a escola pode deixar de estimular tal capacidade? Como lidar com a diversidade nas salas de aula sem a aplicação dos conceitos norteadores da Sociologia? É possível preparar as futuras gerações contra as desigualdades e as injustiças sem o conhecimento dialético da História e o mergulho nas Ciências Sociais? A hierarquia separatista entre matérias exatas e humanas (com a supervalorização das primeiras) é uma discriminação contra o potencial e a inteligência dos indivíduos. Fazer contas, desenvolver operações matemáticas e usar corretamente o idioma são aplicações ao alcance dos computadores e dos robôs. Mas as máquinas não conseguem funcionar criativamente de forma original, capaz de gerar o que ainda não existe ou construir fantasias que alimentam o espírito. Usam sistemas binários que desconhecem a transcendência e a intuição (campos que movimentam a alma da verdadeira realização humana). Que tipo de ser e de cidadão o atual projeto (?) de Educação do governo pretende formar? Alegar (em nome de benefícios para o futuro da infância) que as universidades precisam ser sacrificadas para priorizar o ensino básico é desculpa, descabida, para justificar um ato de esquartejamento. Não se pode cortar a cabeça em troca de um falso conforto dos pés. Não dá para acreditar nas boas intenções de quem desvaloriza e mutila a área de Humanas, pois esta é a origem e a razão da Pedagogia. Difícil esperar melhoria e eficiência no processo ensino-aprendizagem sem um sólido plano de reciclagem e formação continuada dos professores. É utopia pretender que sem valorização profissional, submetidos a baixos salários e condições precárias de trabalho, os educadores possam melhorar os drásticos e vergonhosos índices dos nossos estudantes. Impossível confiar numa gestão confusa, que escolhe ministros despreparados para a Pasta e não consegue manter dirigentes em postos estratégicos. E, pior, não apresenta soluções para o quadro alarmante (mas verdadeiro) que denuncia, veementemente, com gráficos incompreensíveis e lamúrias ideológicas inconsistentes.

Hoje, as únicas conclusões seguras sobre a Educação brasileira é a de que a doutrina oficial segue a cartilha de ódios de um psicopatético guru (franco atirador de tocaia nas redes sociais, baseado no exterior) e que, para a Presidência, alunos e professores são meros “idiotas úteis”. Quanto ao ministro do momento, bem... Talvez o seu grande talento (como ele fez questão de afirmar perante deputados, no Congresso Nacional) seja ser um bom tocador de forró – enquanto a Educação continua desafinando e fora do compasso.

Por: Redação O Tabuleiro
Dia 20/05/2019 10h17

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