Desde que eu cheguei para morar em Ilhéus, em 2018, o transporte público já era um problema. Eu me lembro da primeira vez que eu peguei o ônibus no Moradas do Bosque sentido Terminal Urbano. O ônibus tinha assentos soltos e outros danificados sem condições de uso. Na volta para casa, no terminal, eu corri de um lado para o outro da plataforma várias vezes porque os ônibus não paravam no local indicado nas placas.

Com a pandemia, novas complicações assolaram o setor de transporte público no Brasil, especialmente no que diz respeito ao financiamento da tarifa, pois houve redução generalizada de passageiros e a remuneração do sistema em muitas cidades, inclusive em Ilhéus, acontece pelo número de passageiros pagantes. O resumo para Ilhéus é: não era bom mas piorou.

Logo que o comércio foi liberado para funcionar em Ilhéus, durante a pandemia, os ônibus não foram autorizados a circular de imediato. Não se viu nenhum movimento para garantir o direito ao transporte das pessoas que dependiam do transporte coletivo. Passado um período, o transporte foi retornando e desde setembro, pelo menos no papel, ele deveria estar rodando com 100% da frota. Como se sabe, isso não acontece em Ilhéus. Mas é pior: os ônibus não circulam no período noturno, os horários para a zona rural estão seriamente comprometidos e em praticamente todas as linhas, inclusive dentro da cidade, há redução considerável de viagens. E aqui não estamos falando de especulação. Um estudo realizado na comissão de transporte e mobilidade da câmara de vereadores de Ilhéus, cujo tive a oportunidade de participar da elaboração, aponta por localidade o percentual de redução no número de viagens. Apesar de oficialmente compor o grupo de trabalho, a prefeitura não enviou representante em nenhuma das reuniões. Cabe dizer também que mesmo após finalização do relatório, ninguém da prefeitura se dispôs a dialogar. Falo com absoluta convicção que todo o trabalho realizado pelo legislativo da cidade foi sumariamente desconsiderado pela prefeitura. É um completo descaso. Em paralelo, também não se viu ação efetiva para pelo menos atenuar a situação das pessoas que dependem deste modo de transporte para se deslocar e muito menos ações para minimizar os prejuízos para deslocar funcionários em setores da economia como, por exemplo, a indústria e o setor hoteleiro. O transporte informal é hoje a escolha de transporte de muitos moradores que estão dentro da cidade mas e como fica a zona rural? Os moradores do distrito de Sapucaeira que interditaram em manifestação a Rodovia BA-001 estão há meses com o seu direito de ir e vir seriamente comprometido.

Posto o problema, qual é a solução? É duro falar isso mas para qualquer solução que possa existir é preciso que haja primeiro vontade política. Em Ilhéus, hoje, com segurança é possível afirmar que não se trata apenas de aspectos técnicos do sistema de transportes. É preciso que a prefeitura queira resolver o problema de verdade. A partir daí então, para garantir que as soluções sejam adequadas a longo prazo, a prefeitura deve se aprofundar em estudos técnicos e propor um sistema que funcione. Não existe solução milagrosa. Não há como substituir o transporte público sem grandes prejuízos por transporte por vans, por táxi ou por transporte por aplicativos, como já ouvi por aí. Em 2019 tivemos na cidade cerca de um milhão e meio de giros de catracas no mês de Janeiro e destes cerca de 650 mil pagantes. Mês de Janeiro é um mês de férias e esses são dados oficiais apresentados pelas empresas de ônibus para a câmara de vereadores. Apesar de todos estes problemas, em

Janeiro de 2021, foram cerca de meio milhão de giros de catraca e um pouco mais de 210 mil pagantes. Eu me pergunto: será que a prefeitura já parou para pensar seriamente no prejuízo econômico, social e sanitário de tanto descaso com o transporte público na cidade? Ninguém aguenta mais.

Eu sou Peolla Paula Stein, especialista em mobilidade urbana, para Ilhéus FM.