Em 11 de maio de 2011, a ONU decretou a Década de Ação para Segurança no Trânsito, que foi renovada agora no ano de 2021 também para a próxima década. Com isso, o mês de Maio se tornou no mundo inteiro referência para balanço das ações para o trânsito. Disto nasceu o Movimento Maio Amarelo, em 2014, com a proposta de chamar a atenção da sociedade para os altos índices de mortes e feridos no trânsito. Os acidentes no trânsito são a oitava principal causa de morte no mundo e a principal entre crianças e jovens de 5 a 29 anos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). A meta é a redução de, pelo menos, 50% de lesões e mortes no trânsito no mundo inteiro. O Brasil é signatário de todas estas ações.
As políticas tradicionais de segurança no trânsito focam principalmente nos usuários, que são responsabilizados pelos acidentes por não estarem atentos ou por assumirem riscos desnecessários. Uma política que não é nova no mundo mas é nova no Brasil trás uma nova perspectiva sobre o assunto. O programa Visão Zero transfere a responsabilidade sobre os acidentes de trânsito dos usuários das vias para aqueles que as projetam. A abordagem sistêmica observa as causas dos problemas de insegurança viária, que na maioria das vezes se deve a problemas do desenho urbano, para criar um sistema de mobilidade seguro. Essa política considera que os erros humanos são inevitáveis, mas as mortes e as lesões graves no trânsito não deveriam ser. Nada disso, exclui o respeito e a responsabilidade que cada pessoa, seja ela pedestre, ciclista ou motorista deve ter no trânsito, mas traz a tona um problema até então mascarado que é o planejamento das vias.
Agora vamos pensar em Ilhéus. Tenho certeza que os leitores ouviram falar em diversos acidentes nas últimas semanas aqui na cidade. Com um pouco de atenção também podem perceber que muitos deles ocorreram na nova pista duplicada da BA-001, ou em seus acessos, principalmente no trecho entre a Ceplus e o Hotel Opaba. Diante de tudo que escrevi até agora, deixo a reflexão: como pode uma infraestrutura tão nova, ainda nem inaugurada oficialmente, produzir tantos acidentes?
Não há como saber a quantidade exata de acidentes que ocorrem na cidade. Na verdade, nem uma quantidade aproximada. Muitos acidentes não são registrados por não envolver vítimas graves e os que por sua vez são registrados, não estão em um banco de dados unificado. Não ter informações prejudica qualquer ação de planejamento para prevenção de acidentes e proteção à vida. Que pese a falta de dados, é necessário urgentemente que as novas políticas de segurança no trânsito sejam adotadas pelos projetistas e gestores. Afinal, acidente é tudo aquilo que não pode ser previsto, quando sabe-se que em um determinado local ocorrem muitos acidentes, passamos a previsibilidade, portanto não trata-se mais de acidente e sim de crime. Um crime contra a vida humana. Que tal então, se a gente adotar o lema visão zero na cidade de Ilhéus: nenhuma morte no trânsito é aceitável. Eu topo! Vamos nessa?