
Ilhéus e Itabuna possuem políticas culturais bem diferentes. A primeira, reconhecida mundialmente por sua história e belezas naturais buscou a um tempo atrás um alinhamento com a política cultural nacional com o objetivo de institucionalizar grupos, organizar movimentos e projetos culturais. Tudo isso em meio a uma política cultural do imediatismo, sombreada por uma política de eventos, que reduz a cultura a noção de entretenimento e promove, indireta ou diretamente, o dirigismo cultural.
Itabuna teima em permanecer no papel de ações que requer transparência, descentralização de recursos e desconcentração de atividades culturais. É uma cidade que anda na contramão das políticas públicas de cultura. Ao contrário de seus agentes que insistem em construir ações que possam fortalecer seus movimentos.
Há uma grande perspectiva da chegada de investimentos de infraestrutura na região e o impulso decorrente dessas iniciativas para o desenvolvimento regional do Sul da Bahia gerarão impactos diretos e indiretos nos municípios de Ilhéus e Itabuna, sobretudo nas práticas culturais destas cidades. Entendemos que é inevitável a transformação de Ilhéus e Itabuna em um grande polo de desenvolvimento. Acontece que
produtores culturais e artistas, a fim de garantir sua sobrevivência no mercado, se juntarão às políticas de investimento das empresas, sob a égide do investimento social, com intuito de atender a demanda da indústria cultural. Com isso, criarão uma situação de dependência, quase paternalista, transferindo responsabilidades, antes delegadas ao poder público, para a iniciativa privada. O que não é de um todo ruim.
Entretanto, o vilipêndio da arte e da cultura é uma prática sem volta se as políticas públicas de cultura destes municípios se tornarem, cada vez mais, obsoletas ou incapazes de garantir a existência dos grupos e das práticas culturais locais. Inovação e criatividade não poderão ser desaconselhadas. Sabemos, como diz Celso Furtado, que estes dois aspectos estão relacionados à “capacidade de ação dos grupos sociais de impor seus interesses aos demais promovendo uma ruptura no plano da racionalidade”. Daí a ideia de tentar compreender como artistas, produtores e fazedores de cultura se relacionam com a política cultural imposta por estes municípios. É preciso compreender como a classe artística se articula com o Conselho Municipal de Política Cultural e a política de editais. Artistas, grupos, companhias e movimentos culturais compreendem o significado, ipsis litteris, de política cultural? Espera-se que nas decisões coletivas tenha-se a clara visão de que “esse exercício de poder se inicia na própria definição do que seja “política” e “cultura” e, como decorrência, do que seja “política cultural”, como lembra Alexandre Barbalho.
Afinal, quais são os dispositivos que favorecem a igualdade de condições de participação dos artistas e fazedores de cultura na busca por financiamentos de suas propostas, nas cidades de Ilhéus e Itabuna? Quais são os principais entraves apontados pelos fazedores de cultura na consecução das políticas públicas de cultura? Os governos municipais de Ilhéus e Itabuna compreendem políticas culturais como instrumentos de uma política de governo ou política de Estado? Como, por fim, e aqui se concentra a tarefa mais árdua, se erradica a noção enraizada de cultura como entretenimento que permeia a cabeça dos gestores públicos?
Eu acredito que estas discussões merecem um estudo, quiçá, um artigo.