Pensar a cultura de Ilhéus exige um esforço de deslocamento, isto é, virar os olhos para outras grandes riquezas da cidade, para além do cacau. Ilhéus não é só o cacau, mas o turismo, a força religiosa, a música, a comida, ou melhor, Ilhéus é o Brasil. Ilhéus é o Brasil na medida em que sua longevidade histórica e o protagonismo social na história do país, promovem as mesmas possibilidades de bases sociais, ou seja, o Brasil multicultural e multifacetado, também é a Ilhéus multicultural e multifacetada.
Essa talvez seja uma perspectiva que nos falta: a da identificação com o todo. Nossa história fincada, em boa parte, no cultivo do cacau, foi a mesma que nos paralisou com a chegada da vassoura-de-bruxa. Nesse sentido, é preciso relembrarmos o alerta do grande Adonias Filho: “a sociedade grapiúna do sul da Bahia, porém, que tem no chão de cacau o grande objetivo, não se isola culturamente”. Não se isolar culturamente do país, é o primeiro passo em direção à reestruturação cultural da cidade. Aliás, não se isolar culturalmente, significa não se isolar politicamente, porque dela depende tudo.
Por fim, falo de cultura para lembrar da cultura da educação, pois sem ela não há possibilidade de existir cultura, pelo menos na contemporaneidade. E por isso faço um apelo: é preciso que se pense na vacinação em massa de todos os profissionais da educação; Ilhéus precisa dar exemplo de que se preocupa com a educação, porque agora, de maneira inversa, não será o Brasil que influenciará Ilhéus, mas Ilhéus que mostrará para o Brasil que aqui a educação tem papel central no desenvolvimento, seguindo o exemplo de grandes países desenvolvidos da Europa.