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O Tabuleiro

RILTON FILHO

RILTON FILHO

TAL COMO A EDUCAÇÃO FAMILIAR, A CLASSE POLÍTICA É FORMADORA DE MENTALIDADES E COMPORTAMENTOS.

A partir do século XX os historiadores que pensavam a cultura de um determinado lugar, passaram a pensar sob uma nova perspectiva: a história das mentalidades. A história das mentalidades não se preocupa, por exemplo, em identificar que um índio usa cocar, mas, o que leva aquele índio a usar um cocar. Em resumo, a história das mentalidades busca entender o que um coletivo de pessoas pensam e sentem para fazerem o que fazem.

Em tempos pandêmicos, o exercício de tentar entender a mentalidade que faz parte dos brasileiros, diante de mais de 120 mil mortos pela COVID-19 (sendo aproximadamente 1000 por dia), se aglomerarem em praias, bares e festas, é antes de tudo um exercício ético. A perspectiva ética, neste caso, uma ética da alteridade e solidariedade, falta a estes que continuam vivendo como se a morte do Outro não existisse e fosse menos importante.

Nesse sentido, a mentalidade dos brasileiros que desrespeitam as normas de contingência é baseada em pelo menos duas questões: (1) egocentrismo, na medida em que os números dizem a respeito de outras famílias e não da minha; e (2) anti-patriota, porque contrário do que se pensa, patriotismo é antes de tudo pensar no bem-estar social de todos e não simplesmente votar no candidato que eu gosto.

Dado que estamos pensando a partir das mentalidades, isto é, do exercício de verificarmos o que sustenta esses comportamentos, poderíamos pensar na cultura familiar e política do país. Neste caso, enquanto as famílias abandonam, em razão da louca rotina de trabalho, o simples ensino da empatia, ou seja, ensinar aos seus a sentirem a dor do outro, os políticos absorvem a onda brasileira do caudilhismo político e abrem mão das suas tarefas morais e éticas, focando, somente, em não roubar. Ou seja, para parte dos brasileiros, político bom é o que não rouba. Bom, pensar política e sociedade apenas por esse prisma, sugere atraso e pouca compreensão de progresso. De qualquer forma, pensando a partir das mentalidades coletivas que nascem das famílias e também das estruturas políticas, o pensamento do filosofo francês Emmanuel Lévinas nos é essencial. Ele disse: “O Estado do justo sairá dos jutos, antes da propagação e da pregação”. Em outras palavras, o jovem ou velho que despreza a morte do outro e simplifica o caos social de hoje, é o mesmo pai e mãe de família de amanhã, tal como o político de amanhã.

Portanto, o papel moral e ético responsável por romper o egocentrismo e o anti-patriotismo é dever de toda à população, inclusive dos políticos. Mas isso só será possível antes da propagação e pregação, porque falar que é solidário e patriota mesmo aglomerando e colocando a vida do outro em risco é uma coisa, mas ser ético e responsável é outra.

Por: Redação O Tabuleiro
Dia 09/09/2020 08h13

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