"Começo por avisar: não assumo qualquer responsabilidade pela exatidão dos fatos, não ponho a mão no fogo, só um louco o faria. Não apenas por serem decorridos mais de dez anos, mas sobretudo porque verdade cada um possui a sua, razão também, e no caso em apreço não exergo perspectiva de meio-termo, de acordo entre as partes (…) Agradecerei a quem me elucidar quando juntos chegarmos ao fim, à moral da história. Se moral houver, do que duvido".
Foi assim que o nosso saudoso Jorge Amado iniciou sua narrativa em Tieta do Agreste, isto é, com a perspicácia de quem coloca em cheque a veracidade da sua própria história. Tal como esse trecho, coloco em questão alguns fatos no Brasil:
1- Ontem completou 1000 dias da morte de Marielle. São mil dias de dúvidas, mas de certeza que nesse país ainda se morre por razões políticas.
2- Em 2020, 12 crianças morreram baleadas no Rio de Janeiro. As duas vítimas mais recentes são as primas Emilly Victoria, de 4 anos, e Rebecca Beatriz, de 7.
3- Policial Militar é morto cruelmente enquanto tentava impedir um assalto.
4- Enquanto o Reino Unido começou o seu plano de vacinação nesta terça-feira, o Brasil assiste a inauguração das roupas usadas pelo presidente e a primeira dama no dia da posse.
Definitivamente, o Brasil parece viver em desarmonia consigo mesmo, ou seja, não há segurança pra quem precisa de segurança; não há segurança pra quem exerce a segurança, tampouco há perspectivas de planejamento sanitário em plena PANDEMIA.
Nós chegamos no último mês deste ano estranho, capazes de repetir as mesmas palavras de Jorge Amado: "Agradecerei a quem me elucidar quando juntos chegarmos ao fim, à moral da história. Se moral houver, do que duvido".