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RILTON FILHO

RILTON FILHO

VOLTA AS AULAS NA BAHIA: MUITA PRESSÃO, POUCO PLANEJAMENTO E MUITO EGOÍSMO

evidente que ficou insustentável, meses após meses, adiar a volta dos alunos as escolas. Mas é também evidente que essa demora não parte somente da vontade governamental de estabelecer X ou Y decreto, pelo contrário. A verdade é que há uma estética, um contexto e, sobretudo, uma geografia das escolas publicas do Brasil, principalmente no Nordeste e no Norte do país. Essas regiões, historicamente, foram sabotadas por políticas públicas racistas e xenofóbicas, cuja consequência não se percebe somente em um tempo pandêmico, mas em qualquer tempo. Dito isto, temos o mínimo de compreensão macro da nossa educação brasileira para percebermos a complexidade e gravidade de pensarmos educação e pandemia no Brasil, dado que nossa estrutura é deficitária. Ou seja, diante dessa acidez que a pandemia consegue possibilitar, governo federal e estadual não conseguiram o mínimo de ajuste nessas deficiências estruturais, isto é, falta internet, computadores, água e salas apropriadas. Nesse sentido, o caso concreto dessa situação se configura da seguinte forma: a educação brasileira é boicotada sistematicamente e pensada a partir de um prisma muito baixo se comparada a países desenvolvidos; nós pensamos educação goela baixo. Para contextualizar o ouvinte e não cansá-lo com dados históricos e sociológicos do nosso drama educacional, me permita entrar em fatos ainda mais concretos: no último dia 13/07 o governador da Bahia, Rui Costa, declarou em live que as aulas do seguimento estadual voltariam no dia 26, isto é, dentro de 15 dias. Também justificou, em uma de suas falas, que essa volta não escapava da normalidade, dado que os alunos estão nas ruas jogando bola, no shopping e festas. Preciso reagir a essas duas questões: o governador acabar por confundir escola com um restaurante, porque quando decretos liberam o funcionamento desse seguimento, faz sem nenhuma obrigação previa estrutural, ou seja, o governo não tem o dever de remanejar as mesas, janelas, balcões e cozinha desse restaurante, o dono daquele espaço deverá fazer isso, mas as escolas, o governo possui o dever prévio de remanejamento estrutural e intelectual para o seu funcionamento. O segundo caso, que veladamente compara o comportamento dos alunos com o dos professores, deve ser criticado, inclusive do ponto de vista institucional, uma vez que os professores possuem vinculo empregatício e precisam ser vistos como profissionais. Aliás, os profissionais da educação com menos de 30 anos, de muitos municípios, não se sentem reconhecidos, uma vez que não puderam ser vacinados dentro de um PNI que por ora foi mudado, mas de um jeito paradoxal. Do que estou falando: no dia 17 de junho o secretario de saúde da Bahia anunciou que a partir daquela data o esquema de vacinação mudaria, encerrando-se os grupos prioritários e seguindo assim critérios etários. Paradoxalmente, no dia 21, a cidade de Salvador ainda vacinava por critérios de grupos prioritários. Ou seja, os municípios que seguiram o congelamento de aplicações nos seus grupos pela metade, como no caso dos profissionais da educação, ficaram e aqui estão no dilema perverso e irresponsável: colocá-los em sala de aula, sem ao menos uma dose da vacina. Não há outro titulo para essa coluna: muita pressão, pouco planejamento e muito egoísmo dos que estão vacinados, os quais estão olhando para essa situação como quem olha para o mar pegando fogo. Mas deve-se dizer: esse mar não é de peixes, mas de pessoas.

Por: Redação O Tabuleiro
Dia 14/07/2021 07h34

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