No século passado, as grandes cidades do mundo perderam a luta para o trânsito. O modelo de planejar cidades com foco no carro atingiu em cheio a economia e a competitividade das cidades. Quanto mais espaço se abria, mais precisava abrir, mais longe as coisas ficavam uma das outras e cada vez precisava-se do transporte motorizado para vencer as longas distâncias que o próprio transporte estava criando. As cidades ficaram caras em sua manutenção, os espaços mais vazios, as pessoas mais sedentárias e muitas vítimas de doenças respiratórias e dos acidentes de trânsito. Não demorou muito para que esse ideal de planejamento fosse substituído e a palavra mobilidade urbana entrasse em cena dando destaque ao que de fato importa: as pessoas.
Aqui, preciso deixar claro, não se trata de uma luta contra os carros, mas sim de uma balança que vê a cidade de forma sistêmica, que movimenta bens e pessoas, por diversos modos de transportes para atingir os seus objetivos na cidade. Se esta lição foi aprendida nas grandes cidades que hoje correm contra o tempo para recuperar seus espaços públicos, reinserir as pessoas no planejamento e promover mais sustentabilidade e saúde, ainda encontramos cidades que estão cometendo os mesmos erros do século passado.
Ilhéus, cidade que vislumbra o futuro é capaz de nos surpreender todos os dias quando o assunto é mobilidade urbana. Se melhora o fluxo de carros em um lado da cidade, vê o serviço de ônibus piorar ainda mais. Implanta ciclofaixa, tira ciclofaixa, implanta ciclovia, destrói ciclovia. Reconstrói ciclovia e ela fica insegura. Mas nada surpreendeu mais do que descobrir que depois de um passo para frente alguém decidiu dar dois passos para trás. Na hora em que estamos avançando nos debates de mobilidade urbana, nas obras e no futuro da cidade, a mobilidade urbana sai de cena, como quem apaga, uma história bem recente para regressar ao século passado. A narrativa é simples. Era uma vez uma secretaria de mobilidade urbana. Era uma vez uma autarquia de transporte, trânsito e mobilidade. Agora só transporte e trânsito. E a gente que lute pela mobilidade.
É certo, caro leitor, que eu poderia escrever meu primeiro texto como colunista com diversas sugestões para melhorar a mobilidade urbana da cidade de Ilhéus, certa de estar colaborando na melhoria na qualidade de vida de todos nós. Mas entre o poder e o dever eu escolhi o dever de informá-los que estamos a um passo de não ter mais sequer um setor de sinalização de trânsito na cidade que possa colocar uma placa de atenção nas curvas sinuosas que a política faz. É um passo à frente, dois para trás.