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RILTON FILHO

RILTON FILHO

NEGRO, PELO VISTO, NÃO PODE NEM RECLAMAR.

"A ontologia, quando se admitir de uma vez por todas que ela deixa de lado a existência, não nos permite compreender o ser do negro. Pois o negro não tem mais de ser negro, mas sê-lo diante do branco. Alguns meterão na cabeça que devem nos lembrar que a situação tem um duplo sentido. Respondemos que não é verdade. Aos olhos do branco, o negro não tem resistência ontológica. De um dia para o outro, os pretos tiveram de se situar diante de dois sistemas de referência. Sua metafísica ou, menos preten-
ciosamente, seus costumes e instâncias de referência foram abolidos porque estavam em contradição com uma civilização que não conheciam e que lhes foi imposta". - Frantz Fanon

Segundo o filósofo Fanon, é por demais prejudicial as análises ontológicas que não levam em consideração o SER NEGRO. Pois, uma vez que os negros ficaram na subalternidade dos processos históricos, sobretudo depois do século XIX, constata-se que negros e brancos não começam no mesmo patamar, pelo contrário, em lugares diferentes. Ou seja, toda análise estrutural que descarta a causa negra, corre risco de cinismo e, consequentemente, de endosso às desigualdades.

Neste caso, a frase exposta nesse trecho responde bem à questão brasileira: "aos olhos do branco, o negro não tem resistência ontológica", ou seja, a possibilidade de ser resistente por natureza, antes, deve abraçar uma "civilização que lhes foi imposta". A branquitude descredibiliza o uso da identidade negra, pelo negro, minimiza o racismo estrutural e até mesmo o fato de existir um dia da consciência negra, isso porque, os negros não podem reinvindicar, pois o seu poder de SER NEGRO está comprometido com a quebra de uma identidade branca falsa: a do privilégio.

Aliás, até os atos revolucionários dos brancos são encarados com naturalidade, vede, por exemplo, a Guerra de Canudos tão comemorada. Para piorar, a branquitude se serve do vácuo educacional, cujo ensino não se preocupa com conceitos como "racismo estrutural" e até mesmo "branquitude". Nesse sentido, cabe as mídias (rádio, televisão, mídias sociais) desenvolverem o debate para o povo, porque nós precisamos superar as nossas fraturas sociais e uma delas é o racismo, pois se assim não for, continuaremos fornecendo estruturas que possibilitam os negros sofrerem por serem negros (e se isso nunca aconteceu com você, acontecerá um dia)

Portanto, deve-se ressaltar que muitos irmãos brancos já entenderam que eles são como nós. Muitos irmãos negros foram enganados com o lugar do silêncio. Muitos irmãos brancos fizeram uso do engano para ensinar, aos negros, que eles devem ser "negro de alma branca" para serem considerados como tal. Mas muitos irmãos negros entenderam que neles habitam o dunamis (poder) que os empurram em direção ao lugar da existência justa, segura e prazerosa.

Por: Redação O Tabuleiro
Dia 25/11/2020 07h35

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